Jornada dos heroicos: acampamento do MST recupera terra com agrofloresta

Produtos do pré-assentamento José Lutzenberger estão disponíveis na Jornada de Agroecologia
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O processo de revitalização segue até hoje, já com 15 hectares de agrofloresta / Fotos: Lia Bianchini 

Por Laís Melo
Do Brasil de Fato

Nutrir a terra, o indivíduo e o coletivo. Não há dúvidas sobre a urgência de se pensar e de se praticar a agroecologia quando se ouvem histórias de suas concretudes, tecendo redes e avanços ambientais e sociais.
 

O pré-assentamento José Lutzenberger, no município de Antonina, parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, no litoral norte do Paraná, é um desses registros.
 

Com cerca de vinte famílias, com grande presença de uma juventude ligada a terra, que resgata conhecimentos ancestrais e segue se aperfeiçoando nos estudos e vivências, desde 2003 a comunidade concilia a produção de alimentos livres de agrotóxicos com a recuperação da Mata Atlântica.
 

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Hoje, uma tonelada por semana de raízes, folhas e frutos, circulam em atendimento aos municípios com a alimentação escolar e vendas diretas para consumidores de Antonina, Morretes, Paranaguá, Matinhos, Pontal do Sul e, a cada quinze dias, Ilha do Mel.

A vitalidade para enfrentar o agronegócio e o atual momento político que o legítima vem de inúmeras formas, desde a maneira como se relacionam entre si e com as comunidades vizinhas, com articulações de vendas e trocas; desde a quebra de estereótipos sobre a agroecologia e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mantidos pela mídia comercial; o avanço também das práticas de permacultura e bioconstrução; até premiações:
 

“Por conta do nosso trabalho tivemos o reconhecimento de recuperação da Mata Atlântica, com o prêmio Juliana Santilli, na categoria ampliação e conservação da agrobiodiversidade, que é a proposta de agrofloresta, que a gente planta alimentos com a floresta junto”, explica Gustavo Jesus Gonçalves, que é responsável pelas vendas de produtos em cestas e nas feiras.
 

Jornada de heroicos
 

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A história deste território não é distinta da maioria das que conhecemos no Brasil.

Uma terra ocupada e vivenciada por famílias tradicionais que são expulsas com a chegada de fazendeiros: “Nesse caso, chegaram com búfalos. Soltaram os bichos, invadindo áreas dos agricultores locais, e, por ser um animal muito pesado, houve rebaixamento, compactando o solo, alagando e desenvolvendo a monocultura através do tipo de mato que era usado para alimentação dos bichos”, aponta Gustavo.
 

O processo de revitalização segue até hoje, já com 15 hectares de agrofloresta. Gustavo ressalta que o trabalho é um resgate cultural: “A agroecologia, junto com o MST, está recuperando algo que foi feito de uma forma desorganizada, o solo tem muito alumínio e exige um trabalho minucioso de nossa parte. Fazemos o bom uso da terra e é benefício para nós, quanto moradores; para o planeta, por estar reflorestando de uma maneira sustentável; e para sociedade, gerando um alimento puro para quem for consumir, seja no campo ou na cidade”.
 

No local é possível encontrar vários estágios de agroflorestas e são testadas diferentes técnicas de manejo e preparo do solo. O primeiro passo para a recuperação é fazer o “berço”, com plantas como hortaliças e banana. Com o tempo e o manejo adequado, os agricultores vão inserindo novas plantas de portes variados.
 

Jornada de Agroecologia
 

As produções do pré-assentamento José Lutzenberger, compõem a variedade disponível para os consumidores durante a 18° Jornada de Agroecologia do Paraná. Com uma barraquinha na Praça Santos Andrade, onde também há atrações culturais, feira de comidas e debates, apresentam seus produtos e estabelecem trocas com a população sobre alimentação sem veneno, meio ambiente, agroecologia, agrofloresta, hortas urbanas etc.
 

“Nessas trocas a gente também passa um pouco de nossas técnicas. Tem pessoas que plantam no quintal, então também temos essa troca de saber. Estamos em um momento em que o agrotóxico está banalizado, então estamos no movimento de uma conscientização geral”, finaliza Gustavo. 
 

Edição: Pedro Carrano/ Brasil de Fato