No Paraná, Seminário de saúde reúne militantes para um diálogo sobre saúde mental
Por Antonio Kanova
Da Página do MST
Nos dias 26 e 27 de setembro aconteceu o 1º Seminário de Saúde Mental, no assentamento Contestado, na Lapa (PR). A atividade foi realizada na Escola Latinoamericana de Agroecologia (ELLA) e contou com a participação de assentados da reforma agrária, médicos populares e cuidadores terapeutas da Vigília Lula Livre com objetivo de discutir o avanço do capitalismo e as implicações da saúde humana.
Para os organizadores, pensar em saúde não pode ser estar relacionado ao tratamento de doenças. Saúde transcende a cura e é através de cuidados, desde alimentação até a forma como se vive, que se desenvolve uma vida saudável. Hoje é responsabilidade do estado garantir que se tenha políticas públicas que acompanhem as famílias na prevenção de doenças.
Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) tem cumprido esse papel. No entanto, o SUS tem sofrido derrotas significativas desde o congelamento do investimento público na saúde por 20 anos durante o Governo Temer. “Os municípios e comunidades estão sentindo o congelamento dos gastos”, afirmou Olga Estefania, do Sindicato da Saúde do Estado do Paraná.
Estefania afirma que “hoje o que determina este sistema é a licitação”, e explica “vence a empresa que fornece o melhor preço, enfraquecendo o sistema de saúde. O posto de saúde do assentamento Contestado, por exemplo, teve algumas trocas de médicos neste período, com paralisação do funcionamento em alguns momentos, reflexo desse congelamento”.
A sindicalista ainda reforçou que o sistema privado de saúde é um enorme negócio que pensa apenas em aumentar seus lucros, tem visto no SUS – atualmente o maior sistema de saúde público do mundo – é sucateado. Para ela, “é preciso continuar a luta por uma saúde pública”.
Saúde Mental
Doutor em psicologia, Nadir Lara falou sobre como a saúde mental tem piorado significativamente no Brasil. Ele chamou a atenção para o momento político em que se vive e como as ações do Bolsonaro, aliadas à falta de emprego e crise econômica, tem deixado as pessoas doentes mentalmente, criando uma sensação de impotência.
Segundo Lara há uma “batalha mental que cria um sentimento de derrota”, o doutor continuou afirmando que essa guerra mental faz com que as pessoas se sintam “como um nada”. Ele não acredita na causalidade dessas doenças mentais, diante das “ações de necropolítica que tem por objetivo disseminar a morte”.
Outra aspecto que tem causado adoecimento metal vem através da violência laboral e o que envolve o mundo do trabalho. A competitividade, excesso de metas e as jornadas exaustivas de trabalho têm adoecido e matado pessoas.
Segundo o doutor, “os pais não conseguem levar seus filhos ao médico, em alguns casos não conseguem acompanhar o crescimento dos filhos. É um conjunto de coisas que estão diretamente ligadas que tem levado ao adoecimento mental, em alguns casos o suicídio tem sido a alternativa para esses problemas”.
Lara chama a atenção para o sucateamento do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Segundo ele, existe no Congresso uma disputa para que o centro de atendimento psicológico seja encerrado. Segundo o doutor, “as igrejas evangélicas querem a fatia do mercado da saúde mental”. O objetivo é acabar com a política pública, transformando o CAPS em comunidades terapêuticas, sobre o controle das igrejas.
Mas o que fazer para enfrentar esses problemas? Para o Lara é importante construir projetos de relações comunitárias, onde as pessoas possam se ouvir e socializar seus problemas. “As pessoas querem se ouvidas”, afirma.
Outras ações passam pelo resgate da medicina popular, com resgate da cultura da medicina tradicional com o retorno da atuação das benzedeiras, dos chás naturais, das rodas de conversas entre a comunidade. “São ações que contribuem para a tratamento do adoecimento, físico e mental”, finalizou.
*Editado por Fernanda Alcântara