Você tem fome de quê?
Do Setor de Saúde do MST
Da Página do MST
Alimentação! Uma palavra tão falada nos jornais, programas de televisão e portais de notícias. Todo mundo diz que é importante se alimentar para crescer forte e saudável.
Muita gente come. Come e não percebe que cada prato de comida na nossa vida tem muita história para contar e muitas surpresas para nos fazer pensar.
Vocês já pararam para pensar no que comemos no dia a dia? Da onde vem? Como é produzido? Quem produziu? Quanto tempo levou para ser feito? Atualmente a maioria das pessoas come o que consegue comprar, ou seja, para ter acesso aos alimentos é necessário ter dinheiro e quanto mais dinheiro temos, mais possibilidades de comprar alimentos diferentes.
E para quem vive no campo, os alimentos consumidos são diferentes? Tem outro sabor? E ainda, se pensar nos povos tradicionais, que vivem em aldeias, comunidades de pescadores artesanais, territórios quilombolas? Como é o acesso aos alimentos? É só com dinheiro que se garantem os alimentos? É fundamental perceber que é possível conquistar a alimentação saudável quando se democratiza a terra e os bens da natureza.
Uma alimentação saudável é aquela que faz bem para as pessoas, animais, plantas e demais seres da natureza. Uma alimentação saudável é aquela que respeita trabalhadores e trabalhadoras do campo, assim como todas as famílias rurais aqui no Brasil e no mundo inteiro.
A propaganda contribuiu para tornar a população menos consciente de sua saúde e alimentação, bem como para “facilitar” o acesso a produtos industrializados. As vezes, nem sabemos bem tudo que vem nas embalagens coloridas e vibrantes nos dizendo que o que está lá dentro é saudável. Será mesmo?
Vamos pegar como exemplo dois alimentos que usamos diariamente: manteiga e margarina.
A manteiga foi surgiu na Pré história (cerca de 3000 a.C.) e é preparada a partir da gordura de leite batida, usando basicamente 2 ingredientes: creme de leite e sal.
Já a margarina foi desenvolvida na França em 1869, durante uma época de guerras, em um concurso promovido por Napoleão III, para produzir alimentos que pudessem ser facilmente transportados aos soldados.
Ela é basicamente um óleo vegetal modificado quimicamente – Interesterificado (que diabos é isso?), acrescido de branqueadores, sete aditivos químicos (leia no Box o que são aditivos químicos): corantes, aromatizantes, espessantes e vitaminas A sintéticas. Tá duvidando??? Leia o rótulo: Ingredientes: Óleos vegetais líquidos e interesterificados, água, soro de leite, leitelho (soro de manteiga) vitamina “E”, “A” e “D”, estabilizantes lecitina de soja, mono e diglicerídeos de ácidos graxos e èsteres de poliglicerol de ácidos graxos, acidulante ácido cítrico, conservadores benzoato de sódio e sorbato de potássio, corantes urucum e cúrcuma, antioxidantes EDTA e BHT e aromatizante (aroma idêntico ao natural).
O “Guia Alimentar da População Brasileira”, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde pode nos ajudar na escolha de alimentos saudáveis. Ele aponta algumas características do que seja alimentação saudável: deve conter em sua maioria alimentos in natura ou pouco processados, adquiridos em comércio local e/ou produzidos de forma ambientalmente adequada.
Uma das dicas do Guia é evitar o consumo de alimentos industrializados em excesso, os chamados alimentos ultraprocessados, pois eles, além de fornecerem uma grande quantidade de calorias em pouca quantidade e outros elementos químicos como corantes, conservantes, aromatizantes. Esses produtos não deveriam ser chamados de alimentos, pois não passam de uma mercadoria.
Além dos danos à saúde, como por exemplo obesidade, diabetes, colesterol elevado, das pessoas que comem, as empresas que produzem estes produtos exploram seus funcionários e o ambiente. Sua produção envolve, em todas as etapas do processo, um uso extensivo de água, agrotóxicos e outras substâncias químicas prejudiciais à saúde e à natureza, que prejudicam desde o trabalhador que planta ou prepara esses produtos alimentares até o consumidor que o consome.
O excesso de consumo de alimentos industrializados, com agrotóxicos e transgênicos está associado a uma série de problemas de saúde:
1 – Aumento das doenças crônico degenerativas (diabetes, pressão alta, obesidade, câncer, depressão, dislipidemias, doenças cardíacas);
2 – Aumento das alergias e intolerâncias alimentares, doenças respiratórias, doenças gastrointestinais, problemas hormonais;
O que pode ser feito?
Atualmente há muitas informações sobre alimentação e saúde, mas poucas são de fontes confiáveis, ou seja, mesmo quando lemos, escutamos ou vemos algo sobre alimentação saudável precisamos entender se há algum interesse por trás destas informações, para não cair no conto do capitalismo, que se apropria de conceitos e ideias saudáveis para vender seus produtos. É importante só consumir um alimento ou outra substância quando temos certeza que não vai prejudicar nossa saúde.
Embora legumes, verduras e frutas possam ter preço superior ao de alguns alimentos industrializados e ultraprocessados, o custo total de uma alimentação baseada em alimentos in natura ou minimamente processados ainda é menor no Brasil do que o custo de uma alimentação baseada em alimentos industrializados e ultraprocessados. É importante desconstruir, inclusive com valores, a ideia de que alimentação saudável é mais cara ou demora mais para ser preparada.
É preciso ter cuidado com formas anti-dialéticas de se pensar cardápios ou “dietas” para os sujeitos e espaços coletivos, já que não basta criar regras ou somas de calorias etc. A alimentação envolve a forma, os sabores, a cultura, o tempo, enfim, deve ser pensada em sua forma mais complexa e completa.
O enfraquecimento da transmissão de habilidades culinárias entre gerações favorece o consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados. Por isso precisamos investir em nossos espaços de formação na valorização e resgate das tradições e receitas culinárias; bem como a utilização de temperos, ervas e condimentos naturais (salsa, cebolinha, manjericão, hortelã, manjerona, sálvia e vários outros), abominando o uso de realçadores de sabor (o famoso Sazon), etc.
A publicidade de alimentos industrializados e ultraprocessados domina os anúncios comerciais de alimentos, frequentemente veicula informações incorretas ou incompletas sobre alimentação e atinge, sobretudo, crianças e jovens. Este assédio da indústria e do capitalismo sobre nossos corpos começa na infância com muitos produtos alimentares relacionados a brincadeiras e diversão. Precisamos estar conscientes e atentos a este assédio em nossas famílias, escolas, assentamentos, acampamentos.
Essa é uma discussão para todas e todos!
É papo para todo mundo que come e se preocupa com o bem-estar da humanidade e natureza. Não importa a idade, de crianças aos idosos e idosas, quanto mais conhecimento tivermos sobre o que comemos diariamente, mais saudáveis seremos de um mundo mais nutrido e justo para todos os seres do planeta.
Então mãos à obra, para garantir uma alimentação saudável para toda a família e comunidade é importante a participação de todas e todos.
Temos direito à uma alimentação saudável e adequada e esse direito é garantia de saúde.
*Texto publicado originalmente da Revista Sem Terrinha de outubro de 2019.