Primeiro encontro Internacional de Resistência e Solidariedade dos Povos Indígenas e Camponeses

Mais de três mil líderes camponeses e indígenas estiveram reunidos em Caracas, na Venezuela, no Primeiro Encontro Internacional de Resistência e Solidariedade dos Povos Indígenas e Camponeses. Foram quatro dias de intensos debates em fóruns, oficinas e plenárias.

Os principais pontos discutidos

A aplicação do modelo neoliberal, promovido nos últimos anos pelo império estadunidense, através do incentivo de políticas impostas por organismos como o FMI, Banco Mundial e OMC, aplica as chamadas políticas de ajuste estrutural, que são obedecidas fielmente por governos a seu serviço. Além disso, a implantação de planos econômicos, políticos e geo-estratégicos como o Planio Colômbia e outros, têm ocasionado a constante violação dos direitos humanos e da soberania dos nossos países, dando forma a um novo tipo de colonização que se expressa através de acordos como Alca e o TLC .

Paralelamente, os interesses das empresas transnacionais, industriais e agroalimentares, que promovem políticas antipopulares de monopólio das sementes, de agrotóxicos e transgênicos, violentam os direitos e conhecimentos ancestrais de nossos povos e geram graves sequelas econômicas, políticas e sociais.

Esta nova ameaça de colonização e dominação, também traz como resultado que os povos busquem novas formas de organização e desenvolvam maneiras de luta que permitam gerar espaços de encontros, propostas alternativas e projetos de vida para o campo. Nunca na história da humanidade, tantas pessoas se uniram para analisar o futuro e projetar que sociedade querem ter. Quando mais de 100 mil lutadores e lutadoras populares de todo o mundo, se reuniram no Fórum Social Mundial para pensar, compartir e se manifestar enfaticamente contra o império estadunidense, o ideal de uma nova sociedade se tornou mais próximo. Estamos construindo um mundo no marco de uma nova ordem mundial, que privilegie os interesses da maioria da população, baseados em valores como a solidariedade e a convergência social entre todos os setores.

Os processos de Reforma Agrária em nossos países tiveram como alicerce interesses dos grandes latifundiários e de grupos econômicos que geraram a situação atual de concentração de terras nas mãos de poucos e um intenso deslocamento de milhõs de camponeses, indígenas e afrodescendentes de suas terras e territórios. Assim como novas formas de exploração amparadas por políticas de dependência econômica, política e cultural, que ameaçam seriamente a soberania e a segurança alimentar de nossos povos.

Na América Latina, os ventos de mudança estão soprando mais forte do que nunca. Assistimos em todos os países, lutas contra o império, encabeçadas pelo movimento camponês e indígena, que se convertem em frentes de resistência e que defendem a construção de novas alternativas diferentes às feitas nos centros de poder mundial, o qual permite demonstrar com feitos concretos, que outro mundo é possível.

Esta mudança está resultando em perseguições, prisões e assassinatos de milhares de homens e mulheres, dirigentes de movimentos sociais em todos os países da América Latina como Colômbia, Bolívia, Guatemala, Venezuela, Honduras, Nicarágua, Brasil e Chile. Tudo isso é o efeito de uma luta pela implementação da Reforma Agrária integral e pela resistência para evitar a privatização dos nossos recursos naturais e de soberania nacional.

É por isso que o movimento camponês internacional, em aliança com povos indígenas e afrodescendentes, está em permanente mobilização para a construção de um modelo alternativo que dignifique o ser humano através de campanhas globais, como a Campanha pelas Sementes e o apoio de solidariedade a Cuba.

Exigimos: que a Anistia Internacional se mantenha vigilante nos casos de violações aos direitos humanos em todo o mundo; o reconhecimento e respeito aos territórios indígenas; que as políticas governamentais e multilaterais sejam desenvolvidas com a participação das legítimas organizações dos povos indígenas; que os governos convoquem a realização da Conferência Mundial de Povos Indígenas; que os organismos bilaterais e multilaterais respeitem as propostas elaboradas pelos povos indígenas para proteger seus conhecimentos tradicionais de forma a evitar a patentização de sua sabedoria por parte das transnacionais sobre o pretexto de mercantizá-las.

Mulheres

A mulher indígena e camponesa tem conseguido, em sua luta, visualizar seu trabalho que por muito tempo foi inviabilizado pela cultura machista e por políticas governamentais que não valorizam o papel da mulher na sociedade. Muitas delas oferecem sua própria vida em defesa de um ideal para a sociedade.

As mulheres têm avançado através de diferentes formas de organização e conseguido avanços qualitativos e quantitativos que permitem que hoje elas tenham uma importância fundamental na mudança para um modelo alternativo de sociedade. Este processo tem possibilitado articular propostas: a exigência do direito à terra; o reconhecimento econômico de seu trabalho; o trato igualitário entre homens e mulheres

Juventude

A juventude hoje, como sempre, se constitue como ator fundamental das lutas do movimento camponês, indígena e afrodescendente. Os jovens, através de sua participação ativa e consciente, desempenham um papel importante nestas lutas de construção de uma nova sociedade e de condições dignas para a população do campo. Isto permite a articulação de redes internacionais, como a Realização da Primeira Assembléia Latino Americana da Juventude Rural da Cloc, no México, em 2001.

No passado e no presente a juventude é a protagonista dos processos sociopolíticos e culturais da vida nacional. Esta energia está presente nos diferentes programas de educação, saúde, produção e resgate da expressão da cultura camponesa, indígena e afrodescendente. Juntos, estamos construindo e fortalecendo espaços de articulação que contribuem para impulsionar atividades, propostas e ações para o fortalecimento políticos das organizações.