Ao São Francisco
Por Ademar Bogo
São Francisco, rio e santo. Águas vertidas do pranto das margens secas estendidas. Margens que perderam a vida, águas que perderam o encanto.
Margens de velhas carcaças pelos anos carcomidas. Por não serem protegidas desbarrancaram no leito, como um peso sobre o peito o rio já não respira; e parece uma mentira, mas também não se alimenta; e quem do rio se sustenta, sente que não tem mais jeito.
Pensam em sangrar o rio cortando qual estilete. Pra desviar um filete do sangue que já não tem. Dizem que é para o bem da pobreza do nordeste; na verdade os cafajestes controlarão o canal; não haverá nada igual, nos novos tempos vindouros, a água vai virar ouro nos baldes do capital.
Pra manter o Chico vivo é a grande reação. Contra a transposição, desta armação tão perfeita. Não pode querer colheita quem nunca plantou um grão! Nem pode existir razão em um projeto polêmico. O Chico é um escravo anêmico, que está indo ao mercado e será privatizado se não houver reação.
Em nosso grande nordeste há dez milhões de camponeses, e foi por diversas vezes que votaram em eleições; aguardando soluções que aqui nunca chegaram, somente os ricos ganharam e haverá continuidade, se a solidariedade não assumir os desafios, pois só as águas dos rios, ainda não são propriedade.
Se o presidente quisesse fazer uma obra bonita, atacaria a maldita propriedade fundiária, faria a Reforma Agrária e daria condições, para que os nossos sertões fossem todos protegidos. Tendo isto resolvido, se voltaria pra cidade, teria água em quantidade com os rios abastecidos.
Poderia então transpor as águas do São Francisco; não correria nenhum risco no conteúdo e na forma. Depois de feita a reforma e revitalizado o rio, pra não ficar no vazio teria leis por garantia, que enquanto raiasse os dias, as águas dos rios ou paradas, não seriam privatizadas nem vendidas suas bacias.
Este é o grande dilema que teremos de enfrentar, aqui e em qualquer lugar, que exista água corrente. Creiam, que daqui pra frente, nossas fontes naturais, com políticas liberais, serão todas perseguidas, saqueadas ou mesmo vendidas, para empresas comerciais.
Por isso é que a confiança está perdendo a paciência, pois os sinais de incoerência estão por todos os lados! Vemos milhões de acampados sem ver um palmo de terra! O agronegócio impera, poluindo o ambiente; e é o mesmo presidente, dos transgênicos e das barragens, que em tudo acha vantagem num modelo decadente.
Então se torna importante apoiar o Frei Luiz. É o orgulho do país aos poucos se levantando. Ele está no comando, contra a transposição; fez da fome a condição de um movimento de massas; contra as mentiras e trapaças se ergue descalça a verdade, impondo-se a crueldade, para evitar a desgraça.
Todo povo brasileiro está chamado a jejuar, é a forma de lutar que encontramos neste instante; seja aqui perto ou distante terá força este protesto, que aos poucos e em um só gesto se ampliará esta rede. Se não houver solução, seguindo a transposição, o frei morrerá de fome e o rio morrerá de sede.