A seca das Cataratas do Iguaçu
Por Roberto Malvezzi
Antes a seca era exclusividade do semi-árido. Em si uma mentira, da indústria da seca, já que o problema por aqui não de é pluviosidade e sim de evaporação. A média pluviométrica do semi-árido é de 750 mm/ano, nesse território de quase 1 milhão de quilômetros quadrados, o que significa uma precipitação de 750 bilhões de m³ de água por ano. Chove mais que na França, que na Alemanha ou na Espanha. Entretanto, a infra-estrutura de captação de água do semi-árido está preparada para armazenar apenas 36 bilhões de m³, cerca de 5% de toda água que cai. Pior, esses 36 bilhões ainda estão sujeitos a uma evaporação de 70%, portanto, o realmente aproveitável está em torno de 11 bilhões de metros cúbicos. Um desperdício inqualificável, injustificável e imperdoável. Depois nos vêm com a proposta de transposição diante de tamanho desperdício.
Ultimamente, porém, temos visto secas na Amazônia e principalmente na região sul. Aqui a questão é mais delicada. Os ciclos naturais da água têm também suas irregularidades e a situação das Cataratas do Iguaçu, em princípio, poderiam ser até normais. Mas não é só isso. Nos últimos anos esses períodos de estiagem têm sido mais longos e mais constantes. Nada que se aproxime dos oito ou até 12 meses aqui do semi-árido. Quando pára de chover por três meses no sul, a tragédia já é uma realidade. Com uma diferença gritante em relação ao semi-árido, isto é, a região sul é de clima temperado e tanto a vegetação como os sistemas naturais de água não estão aptos para enfrentar esses períodos. Ainda mais, o uso da água no Rio Grande do Sul, por exemplo, já ultrapassa o limite de 30% da disponibilidade da natureza. Segundo especialistas, quando o uso ultrapassa 20% já se impõe um problema de gerenciamento. Portanto, nesse caso, vários fatores se conjugam: o desmatamento, a mudança climática global e o sobre uso das águas disponíveis. A conseqüência dessa situação é que a escassez de água em determinadas épocas na região sul tornou-se crônica, não apenas esporádica. Sintomático é procura dos movimentos sociais e até de órgãos de governo para entender e assimilar as tecnologias de captação de água de chuva que se desenvolveram aqui no semi-árido.
Fica a lição principal para aqueles que agora defendem os mono cultivos de eucaliptos e pinus. Consumindo mais água, devastando o que resta das matas, a questão da água no sul tende a se agravar progressivamente. Seria a hora de se fazer uma análise correta da realidade e tomar as medidas necessárias do bom senso. Atitude difícil para a elite dirigente desse país que vê a lâmpada e o interruptor, mas não consegue estabelecer a conexão entres ambos.
* Roberto Malvezzi é integrante da Comissão Pastoral da Terra.