Política econômica do governo federal precisa ser revista, diz Unafisco

Por Gisele Barbieri
Fonte Agência Notícias do Planalto

Um dos reflexos do grande valor da dívida externa brasileira é o pouco investimento por parte do governo em áreas de extrema importância para o desenvolvimento do país e bem estar da população. A dívida poderá fechar 2006 em mais de US$ 180 bilhões, o que equivale a mais de R$ 360 bilhões.

Ela foi adquirida por sucessivos governos que já acostumaram a assumir as contas do setor privado. Vale lembrar que mais de 60% deste valor pertence a empresas privadas e traz prejuízos diretos para as classes de baixa renda, que sentem as conseqüências desta política econômica no alto preço da cesta básica, acompanhado da diminuição de seu poder de compra.

Para saber mais detalhes sobre este endividamento constante e crescente do Brasil, veja abaixo a entrevista com Maria Lúcia Fatorelli, vice-presidente do Unafisco-Sindical, o sindicato dos auditores fiscais da receita federal.

Na sua avaliação onde estão o maiores prejuízos causados por esta bilionária dívida externa do país?

Maria Lúcia Fatorelli: Hoje a gente nem pode só falar da dívida externa, nós temos que falar das duas, da dívida interna e da dívida externa, porque com essa abertura financeira imensa que nos temos aqui no Brasil, aprofundada pelos atos do Banco Central, não sabemos mais ao certo nas mãos de quem estão os títulos da dívida interna. A dívida externa, a maior parte dela, hoje é privada. A parte pública da dívida passou por uma redução, inclusive com o pagamento antecipado ao FMI, mas ainda é um grande problema. Tanto é que todo esse esforço de exportação que nós temos aqui, que influencia inclusive no modelo agrário e impede a realização de uma Reforma Agrária, tão importante para o país. Tudo isto está ligado à dívida externa.

Falando na antecipação do pagamento da dívida externa ao Fundo Monetário de Investimento (FMI), como a senhora avalia esta ação do governo federal?

MFL: Eu vejo isso como um ato político, em ano eleitoral para se fazer uma propaganda, porque financeiramente foi extremamente desinteressante para o país. O empréstimo do FMI era financeiramente muito mais barato do que todas as emissões de títulos da dívida externa que o governo brasileiro procedeu, em 2005, inclusive antecipando uma parcela da meta de emissão dos títulos que estava prevista só para 2006. Isto gerou um endividamento muito mais caro, então não vemos sentido nisto. Assim se antecipou o pagamento de uma dívida mais barata e se acelerou a emissão de títulos de uma dívida muito mais cara.

A senhora acredita que a redução do superávit primário traria mais recursos para outras áreas de maior necessidade no país?

MLF: Realmente essa política precisa ser revista. Hoje toda a política de superávit tem sacrificado a nação de duas formas. Nós só temos conseguido atingir esta meta de superávit, a partir de um aumento de uma carga tributaria de um lado; e de outro lado com crescentes cortes de gastos em investimentos sociais. Por isso o crescimento econômico do Brasil está tão comprometido. O país com este potencial todo está crescendo muito menos que os outros países em desenvolvimento, inclusive outros países da América Latina.

Qual seria a principal atitude do governo federal para que esta política econômica passe a beneficiar as classes mais pobres?

MLF: É preciso desonerar o consumo, hoje quem está financiando o Estado são os consumidores, principalmente os de mais baixa renda. Em um pacote de macarrão os pobres estão pagando mais de 20% de impostos. Não é possível que a política econômica olhe para esses miseráveis apenas como merecedores de bolsas, isto não resgata a dignidade do povo brasileiro. O povo brasileiro que ter a dignidade de ter um trabalho de ser reconhecido como capaz de se sustentar e de sustentar sua família, e não apenas um merecedor de uma bolsa. Este projeto mata sua fome imediata, mas paralelamente tem que ser fazer investimentos para garantir a geração de emprego, e de uma vida digna para essas pessoas, senão eternamente nós vamos ter de viver com estas políticas compensatórias.