Plantio de eucalipto põe em risco produção agroecológica de assentados
Por Raquel Casiraghi
Fonte Agência Chasque
O plantio de eucalipto realizado pela empresa Votorantim Celulose nos municípios de Candiota e Hulha Negra, no Rio Grande do Sul, tem trazido problemas às populações locais. As cerca de dezoito famílias que moram no assentamento Terra Livre, em Candiota, temem que fungicidas e dessecantes, produtos químicos utilizados na monocultura da árvore, possam contaminar a produção agroecológica dos agricultores.
Na área, que fica ao lado da propriedade da Votorantim, eles produzem leite, legumes, frutas e sementes sem o uso de herbicidas e adubos químicos.
Claudio Moreira Porto, agricultor assentado na região, relata que outro problema enfrentado pelas famílias são os insetos e animais. Estes, afugentados pela falta de comida no local e pelos químicos usados no plantio de eucalipto, migram ao assentamento, onde acabam se alimentado do que os agricultores produzem.
“É grande a migração de insetos e animais como o porco-do-mato, porco-bagual, das áreas da Votorantim. Na época em que cortam o sorgo e não tem outra alimentação, os animais, com fome, irão procurar comida. Como nós, do assentamento, preservamos a natureza, eles vão procurar justamente ali”, explica Porto.
A Votorantim se instalou no local no final de 2004. Atualmente, 8 mil dos 15 mil hectares pertencentes à empresa já estão ocupados pela monocultura do eucalipto. Porto aponta que os empregos gerados pela fábrica são poucos e temporários, somente para a aplicação dos venenos. O salário pago para uma jornada de oito horas gira em torno de R$ 370,00.
O agricultor também denuncia que a empresa tem estimulado os assentados da região a plantarem eucalipto em seus lotes. Mediante contrato, a Votorantim entra com as mudas e os químicos. Em troca, o assentado aluga 40% da sua terra.
“O que eles estão fazendo é dar financiamento para as famílias assentadas que estão há três, quatro anos, sem conseguir receber verba do governo. Como elas não têm condições de manter as suas famílias, elas aceitam os empregos”, afirma Porto.