Via Campesina realiza marcha para denunciar corrupção do agronegócio

Os trabalhadores rurais da Via Campesina acampados em frente à fazenda de Abelardo Lupion realizam hoje uma marcha como parte das atividades da “Campanha de Combate aos Crimes do Agronegócio e da Bancada Ruralista”, lançada junto com a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) em 21 de setembro, em Curitiba (PR).

A marcha começa às 14h00, saindo do trevo de Jacarezinho até a catedral da cidade, onde será realizado um ato ecumênico com a presença do Bispo Dom Fernando Pentiado, da Diocese de Jacarezinho, Padres das Dioceses de Maringá, Londrina, Cornélio Procópio e Jacarezinho, e representantes da Via Campesina e da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

Comunidades rurais da região participam da caminhada junto com os 400 trabalhadores rurais da Via Campesina, acampados em frente à entrada da fazenda Santa Rita, de propriedade de Abelardo Lupion, em Santo Antônio da Platina, desde o dia 18 de setembro.

Os marchantes solicitam ao STF (Supremo Tribunal Federal) o julgamento imediato do inquérito de nº 1872/4, referente o processo de Caixa 2 do deputado federal Abelardo Lupion (PFL-PR), candidato à reeleição pela coligação Voto Limpo (PPS – PFL), da campanha eleitoral de 1998, por desvio de R$ 4,1 milhões.

Pela cassação

A Via Campesina espera que Abelardo Lupion seja cassado pelos crimes cometidos contra o patrimônio público, o povo brasileiro e a soberania nacional. A condenação de Lupion pelos casos que tramitam na Justiça implica na perda do mandato, dos direitos políticos de oito a dez anos e na reclusão por cinco anos, além do pagamento de multa de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial.

A organização de camponses considera inadmissível que um personagem político como Abelardo Lupion, sobre o qual pesam tantas denúncias e suspeitas, preserve seu prestígio político e continue a ocupar um cargo público, que deveria estar a serviço da maioria da população, e não de parte dos ruralistas, vinculados às transnacionais da agricultura, que se empenham historicamente para impedir que os pobres do campo tenham acesso a terra no país.

A “Campanha de Combate aos Crimes do Agronegócio e da Bancada Ruralista”, segue pelo país por meio de manifestos e cartas de apoio à ação dos trabalhadores da Via Campesina contra a truculência do deputado federal Abelardo Lupion.

Acusações

Abelardo Lupion é acusado de caixa 2, na campanha de 1998 para a Câmara dos Deputados. O processo está no STF (Supremo Tribunal Federal) sob o número 1872/4. O deputado usou uma conta corrente da mãe de seu coordenador de campanha para fazer uma “movimentação ilícita” de R$ 4,1 milhões. O dinheiro não foi declarado à Justiça Eleitoral nem à Receita Federal.

Abelardo Lupion é acusado também de receber como pagamento da empresa transnacional Monsanto a fazenda Santa Rita, em troca de lobby no Congresso Nacional para a aprovação de emenda que autorizou o uso do glifosato como herbicida na cultura da soja geneticamente modificada para a safra 2004/2005. Cinco meses antes da aprovação da emenda, o deputado negociou a compra da fazenda por um preço três vezes inferior do seu verdadeiro valor de mercado.

Abelardo Lupion também é suspeito de envolvimento em transação econômica fraudulenta e prejudicial ao patrimônio público da União, em intermediação junto à Cooperativa Agropecuária Pratudinho, situada na Bahia, para adquirir 88 máquinas (da empresa IOCHPE-MAXION) pelo valor de R$3.146.000.

De acordo com a denúncia anônima, recebida pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e CPT (Comissão Pastoral da Terra), 88% desse valor financiado por um programa público, chamado de Finame, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que resultou na entrega ao parlamentar de 24 máquinas em função de sua ajuda na negociação para cooperativa baiana.