Movimentos e organizações fazem ato pela reestatização da Vale
A Campanha Nacional pela Anulação da Privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi lançada ontem no Rio de Janeiro apesar dos obstáculos impostos pelo governo estadual. Com uma mudança de local na última hora, forçada pela governadora Rosinha Garotinho, e da censura de uma apresentação musical por um soldado da Polícia Militar, o ato reuniu cerca de 300 pessoas em uma movimentada praça no centro da cidade.
Representantes dos principais movimentos sociais e partidos da frente democrática exigiram a anulação do leilão que vendeu a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Com o slogan “O minério é nosso e a Vale é do povo brasileiro”, o ato ainda deu a partida para a circulação de um abaixo assinado pedindo o apoio do governo à iniciativa de reestatização. MST, CUT, Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), Marcha Mundial de Mulheres, Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) e dezenas de outras entidades pediram a apuração das denúncias de irregularidades que cercaram a privatização da mineradora, que já foi a segunda maior empresa estatal brasileira.
A menos de duas horas do ato, a governadora do estado do Rio de Janeiro telefonou para a administração do teatro João Caetano e vetou a cessão do espaço, que pertence à rede estadual. Os organizadores decidiram transferir o ato para a porta do teatro para denunciar a postura da governadora. Em manifesto, o comitê para a Anulação da privatização da Vale ressaltou que o descumprimento de acordos firmados foi uma constante no governo do PMDB em fim de mandato. Com a mudança, foram cancelados os shows que estavam programados.
Durante o ato, mais uma mostra da censura: sentindo-se ofendido por um rap cantado pelo coletivo Lutarmada, um dos policiais que acompanhava a manifestação ordenou que o som fosse desligado e que o rapper parasse de cantar. A letra denunciava a violência policial do caveirão nas comunidades pobres do Rio de Janeiro. Só após a intervenção dos parlamentares presentes ao ato e com muita conversa o lançamento da campanha pôde prosseguir.
Na avaliação dos oradores, entretanto, as dificuldades acabaram contribuindo para o ato. “Isso mostra como nosso caminho é difícil”, lembrou Alaiane, que representava o comitê Rio da campanha.
Raimundo Pereira, do Clube de Engenharia, lembrou ainda que “enriquecemos nosso ato com a defesa do direito à palavra, da democracia, da liberdade de expressão. Essa noite avançamos na luta democrática.”
“Para avançar, é fundamental organizar comitês populares, levar a discussão, mostrar a importância. Só com mobilização, a decisão judicial vai sair do papel”, reforçou Leo Haua, integrante da direção do MST. Neuza Luzia, presidente da CUT-RJ, recordou as manifestações na época do leilão da CVRD. “Em uma noite éramos 200, 300 apanhando da polícia. Na manhã seguinte, tinha 10 mil pessoas do nosso lado. O governo FHC só conseguiu leiloar porque colocou a rua o maior aparato repressivo desde a ditadura”, lembrou.
“Há possibilidade de reverter esse crime contra o Brasil. Com o lucro da Vale do último semestre, dava para comprar duas Vales pelo preço que se vendeu. Queremos exigir o ressarcimento do prejuízo do povo brasileiro”, defendeu a deputada federal Dra. Clair (PT-PR). Ela foi uma das autoras da ação popular que foi reaberta pelo Tribunal Regional Federal em Brasília e que pode levar à anulação do leilão da Vale.
No próximo dia 22 haverá uma reunião da Coordenação nacional da campanha para traçar estratégias para resgatar esse patrimônio nacional. O encontro na APEOSP (Praça República, 282 – Centro – São Paulo), das 9hs às 13hs.