Sem Terra cultivam forma alternativa de saúde
O resgate das ervas medicinais para o uso na saúde humana vem conquistando cada vez mais adeptos em todo o país. No Rio Grande do Sul, este trabalho é desenvolvido principalmente nas áreas rurais do estado, onde o contato com a natureza e os valores familiares estão mais presentes no cotidiano das pessoas.
Nesse sentido, assentados e acampados gaúchos ligados ao MST desenvolvem, desde 2001, um projeto de recuperação e de utilização das ervas medicinais no tratamento da saúde. Chamado de Farmácia Verde, o programa tem por objetivo incentivar a produção das plantas e a sua aplicação a fim de diminuir o uso de remédios químicos.
Na avaliação da farmacêutica Juliana de Almeida Costa, integrante do setor de saúde do MST, a iniciativa é vantajosa: “a partir do momento em que o remédio é industrializado e tem seu princípio ativo isolado, ele passa a ter maior capacidade de ocasionar efeito colateral. E o extrato bruto, que é composto pela tintura e pelo chá, tem um potencial muito menor de desenvolver efeito colateral”. Segundo ela, cada planta é um ser completo, que tem várias substâncias químicas e uma neutraliza o efeito colateral da outra. “O extrato bruto consegue diversos princípios ativos. Quando o princípio está isolado, ocasiona efeitos”, explica.
Juliana ainda destaca que o uso das plantas medicinais, ou fitoterapia, também é uma maneira de valorizar os moradores mais antigos dos assentamentos e acampamentos. Excluídos do mercado de trabalho devido à idade avançada e já com menos vigor físico para trabalhar na agricultura, cultivar as ervas é um meio de se manter em atividade. Além disso, são eles que detêm o conhecimento sobre as plantas e repassam a sabedoria aos mais jovens.
O grande desafio agora está em conseguir inserir a prática da fitoterapia no SUS (Sistema Único de Saúde). A farmacêutica relata que em diversos casos o agricultor é medicado desnecessariamente com químicos. “O problema não é o remédio químico, mas sim da forma que ele é banalizado hoje. Ele é importante, não podemos negar a evolução e a tecnologia, mas o problema é a quem ele serve. Muitas pessoas preferem usar o remédio caseiro e, se necessário, usar o medicamento químico sob indicação de um médico “, argumenta.
O projeto Farmácia Verde é atualmente desenvolvido em assentamentos e acampamentos da região das missões, no norte, sul e na zona metropolitana de Porto Alegre. Calêndula, malva, tansagem, guaco, hortelã, marcela e erva de bicho são algumas das ervas mais cultivadas.