Reforma Agrária e Universidade: intercâmbio necessário

Por Adelar Pizetta *

Constata-se que as políticas de ajuste, no âmbito da globocolonização da economia, cujas regras são ditadas por organismos financeiros internacionais, sob influência dos Estados Unidos, têm gerado conseqüências dramáticas e cruéis para amplos setores da sociedade. A enorme distância entre abundância e exclusão, passam a ser a característica desse momento histórico sujeito a novas guerras.

Nesse contexto de contradições e crises, a universidade passa a ser reflexo de um modelo de sociedade em que o seu papel se limita a reproduzir e legitimar a “ordem vigente”, pois, o campo de forças que predomina na universidade é o mesmo que predomina na sociedade global, com raras exceções. Ou seja, a educação “mergulha” na mesma crise que a sociedade “navega” e está jogada ao mercado.

Mas, a universidade pode também assumir a função de questionadora da ordem vigente e, colaboradora dos ideais de transformação social, com uma visão crítica da problemática social, buscando mecanismos para contribuir com a humanização do próprio homem. Portanto, pode desempenhar um papel importante na formação de consciência e de cidadãos sensíveis aos problemas sociais e motivados a buscar soluções.

Em relação a essa possibilidade, no caso específico da Reforma Agrária, entendida como um conjunto de medidas que possibilitem o desenvolvimento econômico e social terá como beneficiária a maioria da população brasileira. Segundo estudos da FAO (Órgão das Nações Unidas para a Agricultura), cada família assentada resolve o problema da alimentação para 10 pessoas. Poderíamos enumerar uma lista de benefícios, mas, em resumo, podemos dizer que a Reforma Agrária é a forma mais simples de resolver graves problemas sociais, econômicos e culturais da população pobre e excluída das políticas públicas dos governos que aí estão.

Daí ser necessário intercâmbio efetivo, de conseqüências práticas, que avance na contribuição das Universidades em prol da Reforma Agrária. Rapidamente podemos relacionar alguns feitos que já existem em várias partes do país, como:

Levando o debate da questão agrária para as salas de aula, buscando aprofundar as razões, a importância e a viabilidade de se fazer a Reforma Agrária no país;

Organizar estágios de vivência, afim de que estudantes de diferentes áreas do conhecimento possam conviver com a comunidade assentada, perceber de perto as dificuldades e os avanços ali obtidos, bem como, pesquisar e contribuir para um maior desenvolvimento econômico e social dos assentamentos;

Organizar e viabilizar projetos de extensão universitária, cursos massivos sobre Realidade Brasileira, abrindo as portas para atender demandas de movimentos sociais, enriquecendo processos de pesquisas, como também contribuir com a organização e crescimento dos mesmos;

Organizar grupos de apoio à Reforma Agrária, envolvendo estudantes, professores, funcionários etc., que possam desenvolver atividades concretas de apoio à luta do povo;

Seriam inúmeras as contribuições que o mundo acadêmico pode destinar em prol dos movimentos sociais e, em especial, em prol do MST e da Reforma Agrária. Nesta árdua tarefa, precisamos da união das forças, do empenho de todos aqueles que acreditam em uma forma diferente de organizar a economia, a política, a cultura; de usar a ciência e a técnica, onde a vida humana esteja em primeiro lugar; o conhecimento é social e, é em benefício de toda a sociedade.

Estamos construindo caminhos, abrindo portas e, em muitos lugares a universidade demonstra ser flexível. Mas, isto não é suficiente. Vamos pintar de outras cores a Universidade, pois, a Reforma Agrária e a universidade pública não são apenas “lutas de todos”. É a esperança de um país melhor, de um Brasil dos brasileiros.

*Adelar Pizetta é membro da coordenação nacional do MST

Breves

Trabalhadores rurais estão marcados para morrer no Pará

A Comissão Pastoral da Terra do Pará, divulgou lista de trabalhadores que estão com seus nomes jurados de morte por latifundiários no estado. A lista é composta por cerca de 20 pessoas que são ligadas ao MST, a Fetagri e de outros Sindicatos de Trabalhadores Rurais. Três ameaças já foram cumpridas e os trabalhadores Euclides Francisco de Paula, José Dutra da Costa e José Pinheiro de Lima já foram assassinados. A CPT, o MST e diversos outros movimentos sociais já denunciaram à Secretaria de Segurança Pública no Estado mas até agora nenhuma providência foi tomada.

I Encontro Nacional Universitário

De 1 a 4 de novembro acontece na Unicamp (Universidade de Campinas/SP), o I Encontro Nacional Universitário, com o tema “A terra e um projeto para o Brasil”, que pretende unir experiências, estimular a troca de conhecimentos e provocar o debate. Cerca de dois mil universitários vindos de diversos estados participarão de mesas que discutirão a terra e a história, a terra e a economia, a terra e a cultura, a terra e a mídia e a terra e o direito. Entre os debatedores estão Plínio de Arruda Sampaio, Augusto Boal, José Arbex Jr. e Samuel Pinheiro Guimarães. O encontro é promovido por 11 entidades estudantis, docentes e ligadas à Reforma Agrária.

MST lança livro “A história da luta pela terra e o MST” em Brasília

O latifúndio não busca apenas a sua proteção no poder das armas e da cerca de arame farpado. Busca também aprisionar a história, impedindo que os trabalhadores se apropriem do legado histórico das lutas populares. Com o livro A História da Luta pela Terra e o MST, os Trabalhadores Rurais Sem Terra buscam resgatar a história da luta pela terra, o exemplo dos lutadores do povo e reavivar a esperança de conquistar uma sociedade justa, solidária, democrática e igualitária. O livro, lançado esta semana em São Paulo, será lançado durante o Encontro de Amigos do MST, que acontecerá no Clube da CEB – W5 – 904 Sul em frente à AEUDF, a partir das 9 horas de 10 de novembro de 2001.