Caros amigos e caras amigas do MST

Vem aí a IV Conferência Internacional da Via Campesina, que se realizará em Itaici, São Paulo, entre 14 a 19 de junho. A Via Campesina é uma articulação de organizações camponesas de todo mundo. Uma das mais expressivas organizações de movimentos de trabalhadores de diferentes formatos e ideologias, em cerca de cem países de todos os continentes. A primeira conferência da Via foi na Bélgica, em 1993, onde os movimentos camponeses sentiram a necessidade de se conhecer e se articular melhor.

A segunda reunião ocorreu em 1996, no México. Nessa conferência se discutiu uma plataforma de princípios e formas da ação. Os participantes avaliaram que as experiências passadas de articulação internacional dos partidos e do movimento sindical tinham vários pontos negativos, principalmente o verticalismo e o burocratismo das organizações e o excesso de disputa ideológica em detrimento das ações práticas.

Assim, o primeiro encaminhamento foi aprender com estas experiências: deveríamos ser plurais na ideologia, abertos para todos os que quisessem se incorporar e priorizar uma articulação para ações e mobilizações em torno de objetivos comuns. Ao mesmo tempo, manter uma forma de atuação horizontal de articulação de processos sociais e contrária a burocratismos.

Durante a conferência no México, ocorreu o lamentável do Massacre de Carajás, dia 17 de abril de 1996, no Pará, Brasil. Os movimentos, chocados pela tragédia, decidiram por unanimidade transformar o dia 17 de abril em dia internacional de luta camponesa. Já tínhamos o dia dos trabalhadores, marcado pelo movimento sindical operário, e o dia da mulher, pelo movimento feminista socialista. Agora, finalmente, tínhamos uma data internacional dos trabalhadores camponeses.

A Índia sediou o terceiro evento da Via Campesina, em 2000, onde o enfoque principal foi a definição de linhas comuns de atuação em relação aos avanços do capital internacional sobre a agricultura de todo mundo.

Em reação ao contínuo avanço deste domínio, a IV Conferência terá como temas principais: a luta pela soberania alimentar, para que todos os povos tenham o direito e o dever de produzir seus próprios alimentos; a luta contra a OMC, o FMI, o Banco Mundial e a interferência destes nas políticas agrícolas; a luta por uma agricultura sadia e sustentável, que respeite o meio ambiente; a luta pelo direito à terra, que deve ser para todos e sobretudo para os que nela trabalham. Para cada tema, debateremos as formas de enfrentamento em nossos países e a como podemos unir e potencializar as lutas internacionalmente.

A terra é um bem da natureza. Não pode servir apenas para o lucro de alguns exploradores. Por isso, abordaremos a nossa luta global para que os camponeses tenham direito a terra e a reproduzir as sementes. Não aceitamos as sementes transgênicas, tampouco aceitamos o patenteamento de sementes e animais. Uma empresa transnacional ou um cientista não tem o direito de se atribuir a propriedade privada de um ser vivo. Por isso, dizemos que as sementes são patrimônio da humanidade, a serviço de todo povo.

Uma das contradições positivas que o capitalismo financeiro internacional produziu nas últimas duas décadas é que, por um lado, as transnacionais (umas dez apenas) passaram a controlar o comércio agrícola mundial, as sementes transgênicas e a agroindústria. Por outro lado, elas geraram a necessidade dos movimentos camponeses de todo mundo se mobilizarem e se uniram, pois os inimigos são comuns. A mesma Monsanto, por exemplo, explora os agricultores Coreanos, Hindus, Mexicanos, Africanos do Sul, Brasileiros etc..

Certamente colheremos bons frutos desse nosso cultivar permanente, de idéias e ideais.
Durante a conferência, vamos formar um grande bosque com mudas trazidas de vários lugares. Será o “bosque da solidariedade”, onde cada organização deixará sua árvore. Aproveitaremos para homenagear nosso querido Lee Kyung Hae, dirigente camponês da Coréia do Sul, que se imolou contra a OMC, nas manifestações de Cancun, em setembro passado. Lee Hae é um mártir da luta camponesa internacional contra o domínio das transnacionais e da OMC sobre a agricultura.

Viva os camponeses de todo mundo!

Um forte abraço, da direção nacional do MST, que juntamente aos demais movimentos camponeses do Brasil, será anfitrião dessa importante conferência.

Breves

Marcha nacional contra a Alca, Omc e o Livre comércio

Para segunda-feira, 14 de junho, está marcada a Marcha Nacional contra a Alca, OMC e o Livre comércio. O encontro será no sindicato dos trabalhadores em águas, às 8h30, na Av. Tiradentes, 1323, próximo ao metrô Armênia, em São Paulo. A mobilização tem por objetivo chamar a atenção da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNTACD), que se reúne, em São Paulo, na mesma data.

Programa de rádio do MST pode ser ouvido na Internet

O Vozes da Terra, programa de rádio do MST, está disponível na Internet. Esta edição discute o agronegócio e esclarece os benefícios da agricultura familiar. O Vozes é produzido em uma parceria do MST com universitários do Departamento de Jornalismo da PUC-SP. Para ouvir e veicular nas rádios, basta acessar na página do MST: www.mst.org.br

Campanha de assinatura da Revista Sem Terra e do Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

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Cartas

O MST é a vanguarda da esperança daqueles que sonham com uma patria soberana. Thiago Frederic

Os integrantes do MST estão agindo fora da lei. O direito de cada indivíduo termina quando começa o de outro. Bloquear estradas fere o direito constitucional de ir e vir de todo cidadão. Faride Mansur
Justa é a luta do MST. Quem conhece da história do Brasil sabe como aconteceu a concentração das terras. Não é justo que, ainda hoje, a herança da ganância histórica daqueles que literalmente se apossaram das terras, seja vista como algo legítimo. Isto é um retrocesso para um país que se diz democrático, pois é incapaz de rever o conceito mais básico de igualdade de direitos. Anônimo