Morte de sindicalista no RS completa um ano

Fonte Agência Chasque

Cerca de 150 sindicalistas, amigos e parentes lembraram a morte do sapateiro Jair Antônio da Costa neste final de semana na região do Vale dos Sinos (RS). Passado um ano do assassinato cometido por policiais durante uma manifestação contra o desemprego do setor, colegas do sindicalista reclamam a demora da Justiça em julgar os culpados. Também afirmam que a falta de emprego do setor, situação que Jair tentava mudar, ainda não está resolvida na região.

Antônio Machado, presidente do Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga, que Jair integrava, reclama da demora do julgamento do processo. O Ministério Público ainda está colhendo depoimentos. Os dez policiais acusados, entre eles o comandante da ação, estiveram temporariamente presos, mas hoje respondem o processo em liberdade. Apesar de terem sido afastados do policiamento ostensivo, continuam trabalhando em setores administrativos da Brigada Militar.Na avaliação do sindicalista, há uma postura institucional da polícia em reprimir os movimentos sociais. “O Estado é para proteger as pessoas. Existem mecanismos para a polícia abordar as pessoas sem matar. Eu acho que essa é a grande questão. Queremos acordar a Justiça e a sociedade para que a morte de Jair não seja em vão”, argumenta.

Plínio Castanho Dutra, promotor de Justiça da Comarca de Sapiranga, afirma que depois de ouvidas as testemunhas, a juíza da 1ª Vara decidirá se o caso será levado a júri popular. A pena prevista pelo Código Penal para o crime de homicídio qualificado é de 12 a 30 anos.

Para o jurista, a ação dos policiais foi um fato isolado e não uma posição política da Brigada Militar, como muitos sindicalistas e movimentos sociais denunciam. “Sempre procuro salientar que este foi um episódio isolado, que não tem ligação com a postura da Brigada Militar do Rio Grande do Sul como instituição, que faz um trabalho exemplar. Este fato foi criminoso e praticado por vestiam a farda da Brigada, mas não por sua ordem”, defende.

Outra luta que continua é contra o desemprego do setor calçadista na região. Antônio Machado, do sindicato de Sapiranga, relata que o fechamento das fábricas e as demissões em massa estancaram, mas também não se retornou aos empregos que existiam antes da crise. E nem novos postos de trabalho não foram gerados. “Hoje não existe mais a quebradeira como antes, mas tem coisas que a gente aprende na crise. A situação está um pouco melhor”, afirma.

O calçadista Jair Antônio da Costa, de 31 anos, foi morto em 30 de setembro de 2005 por policiais durante manifestação em Sapiranga contra o desemprego do setor. Na época, havia cerca de 20 mil trabalhadores sem emprego na região. O dia 30 de setembro está marcado também pela morte de outro sindicalista na cidade, há exatos 20 anos atrás. Saindo de uma assembléia que encerrava uma greve de nove dias, o também sapateiro Carlos Dorneles Rodrigues foi baleado.