América Latina: Costa Rica se mobiliza contra Tratado de Livre Comércio
Por: Gerardo Cerdas Vega
Fonte: Minga Informativa de Movimientos Sociais
Mais uma vez cidadãos e cidadãs costa-riquenhos saíram às ruas para expressar seu repúdio ao Tratado de Livre Comércio que o governo de Abel Pacheco negociou com os Estados Unidos e que o atual presidente, Oscar Arias Sánchez, aprova por completo. Cerca de 75 mil pessoas participaram da Jornada Nacional de Luta, nos dias 23 e 24 de outubro. A principal característica destas manifestações foi que elas aconteceram em todo o país. As ações incluíram marchas, bloqueios de estradas e distribuição de materiais informativos. Na capital, milhares de manifestantes caminharam até o Congresso para exigir a retirada imediata da agenda de projetos relacionados à implementação do Tratado, que inclui a privatização das telecomunicações, eletricidade, seguros entre outros.
Cada vez mais setores sociais se somam ao movimento anti-TLC no país. Isso se reflete na grande diversidade de atores políticos que participaram das ações da Jornada: estudantes, funcionários públicos, camponeses, setores da igreja, personalidades de partidos tradicionais, artistas, professores, ecologistas, movimentos comunitários. Além disso, essa diversidade se reflete no fato de que as últimas pesquisas de opinião mostram como sendo maioritária a oposição ao tratado, mesmo que ainda persista em grande parte da população costa-riquenha a falta de informação sobre os verdadeiros impactos do Tratado.
É importante também destacar a solidariedade internacional que este movimento está despertando. Honduras, Guatemala, El Salvador, Panamá, Brasil, Espanha, Bolívia, Peru, e República Dominicana enviaram cartas para a embaixada da Costa Rica nestes países, onde solicitam que as autoridades diplomáticas intercedam para a retirada imediata do TLC do legislativo. O prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, enviou uma mensagem ao presidente Oscar Arias assinalando entre outras coisas que “há preocupações que impedem o país de assinar o TLC com os Estados Unidos. Vocês, como legisladores sabem que estes acordos, de ‘livre comércio’ não têm nada. A dependência será total, como vocês sabem são as grandes potências que impõe os preços e condicionam a vida e o desenvolvimento de seus povos”. Mas o êxito da Jornada não quer dizer que o tratado já foi vencido. O governo federal, na defesa da classe dominante e das grandes corporações estadunidenses, radicalizou sua campanha televisiva e na imprensa escrita, difundindo um discurso desmobilizador.
TLC abre portas para a produção de armas
Há duas semanas, quando o deputado Oscar López denunciou que a empresa estadunidense produtora de armamentos e equipamento militares Raytheon Inc., comprou uma fazenda com o objetivo de se instalar na Costa Rica, se instalou a polêmica sobre as portas que o TLC abre para a fabricação de armas no país. A polêmica se aprofundou quando o Poder Executivo emitiu um decreto onde regula a produção de armamento, incluindo armas pesadas e enriquecimento de materiais radioativos, fato que comprova que isso está relacionado com a aprovação do TLC.
O governo insiste em ratificar o TLC em dezembro, ou em janeiro, o que pode dificultar as ações dos movimentos sociais, por causa das festas de fim de ano e as férias de professores, estudantes e funcionários públicos. Entretanto, também não está claro que o governo terá todos os votos para ratificar o tratado. Por isso, se supõe que a a luta dentro do Congresso será intensa e decisiva. Desta forma, os movimentos sociais entendem que a mobilização nas ruas irá determinar a decisão dos deputados que ainda não estão com opinião definida.
Nos próximos meses haverá uma intensa luta entre os setores opositores e o governo, enquanto o movimento popular lutará tendo como base a mobilização, o governo fará campanhas publicitárias mentirosas e manipuladoreas, com o apoio dos setores patronais e da grande imprensa.
Para os movimentos sociais será chave conquistar o apoio cativo da cidadania que se opõe ao TLC, mas que não se manifesta nas ruas. O povo costa-riquenho compreende que o TLC é bom apenas para uma minoria que sempre se beneficiou com o desenvolvimento econômico neoliberal. Por isso, mais de 60% da população considera que, com o TLC , a Costa Rica irá perder muito mais do que ganhar. Por tudo isso, os próximos quatro ou cinco meses serão de desfecho para uma luta que já se estende por quatro anos e que decidirá o futuro do país, qualquer que seja o resultado.