Pará: terra das mortes sem fim
Por Rogério Almeida*
A formação de consórcio de fazendeiros para a execução de seus adversários é uma das teses defendidas pelo conjunto de entidades ligado a defesa da Reforma Agrária no Pará. Agora, com o julgamento do caso Dezinho, assassinado há seis anos, a articulação parece se estender.
No dia 10 de outubro, uma manobra adiou por uma semana o julgamento de Wellington de Jesus Silva, acusado da execução de Dezinho, apelido de José Dutra da Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, sudeste do estado. A defensora pública Marilda Cantal, que acompanha o caso desde o início, foi substituída por dois advogados. A defensora mostrou-se perplexa diante do anúncio da contratação de caros e renomados advogados. Entre eles, Américo Leal, que advogou na defesa dos oficiais que comandaram o Massacre de Eldorado dos Carajás, e Eduardo Imbiriba. Com que interesse alguém praticaria altruísmo dessa modalidade?
É conhecida a ausência de condições financeiras do pistoleiro, que iria receber dois mil reais pela execução do sindicalista. Américo Leal declarou à imprensa que foi a irmã do acusado que o contatou.
Mobilização
A morosidade nos casos em que são instaurados inquéritos policiais e a parcialidade do trato da Justiça são denunciados amiúde ao longo de mais de três décadas de registros da CPT (Comissão Pastoral da Terr). O caso de Dezinho, como outros, foi encaminhado à Organização dos Estados Americanos. Com o início do julgamento hoje, entidades garantem a mobilização de duas mil pessoas.
Terra encharcada de sangue
Ao longo dos anos o sul e sudeste do Pará ficaram imortalizadas como onde mais de mata gente empenhada na luta pela Reforma Agrária no país. Os derradeiros tem-se registrado o deslocamento para o oeste do estado. Numa região abundante em terras e recursos naturais, a Terra do Meio. Lá foram mortos Dema, Brasília, Irmã Dorothy, sem falar numa chacina em 2003.
No último sábado, a lista ganhou mais um caso. Trata-se do vereador Gerson Cristo (PT), 40 anos, que denunciava havia anos a grilagem de terras, a devastação da floresta amazônica e a exploração ilegal de madeira. Ele foi assassinado com três tiros na cabeça por dois pistoleiros que estavam de motocicleta, em São Félix do Xingu, no sul do Pará.
Rogério Almeida é colaborador do www.forumcarajas.org.br