Reforma Agrária dever estar aliada ao meio ambiente, defende professor da UnB

Por Gisele Barbieri
Fonte Agência Notícias do Planalto

Por Gisele Barbieri
Fonte Agência Notícias do Planalto

A possibilidade de desenvolver a produção florestal nos assentamentos rurais é umas alternativas para geração de renda que está começando a ser discutida, pela Concrab (Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil) e os assentados. O plantio de árvores para eles, além de recuperar áreas degradadas pode se tornar também uma fonte de renda. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária), o valor pago pelo quilo de sementes de eucalipto pode chegar a R$ 10 mil. Mas atualmente esse tipo de produção sofre com a falta de financiamento e de assistência técnica. Por isso, a Concrab iniciou um debate junto do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para viabilizar a produção florestal nos assentamentos.

Para saber mais sobre a importância dos assentados investirem nesta prática, conversamos com Donald Sawyer, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.

Professor, qual a importância para os assentamentos de aprofundar esse debate sobre a produção florestal?

Donald Sawyer: Eu vejo este debate com muita satisfação. Venho trabalhando com o meio ambiente desde os anos 80 e percebi que alguns grupos, como os seringueiros, fizeram alianças com os ambientalistas, por causa de seus interesses em comum. Assim conseguiram, inclusive, recursos para desenvolver seus trabalhos e para adquirir terra. Os seringueiros realizaram uma espécie de “Reforma Agrária” neste sentido, fazendo aliança com o meio ambiente. Muita gente da Reforma Agrária resistia à questão ambiental, considerando que era um luxo para quem estava passando fome. Eu vejo que nos últimos anos, com o interesse por práticas como a agroecologia, eles entenderam que uma vez que se consegue a terra, o meio ambiente é fundamental para a sobrevivência na terra, para poder permanecer e ter uma vida minimamente digna.

Quais a perspectivas viáveis deste debate aliado à Reforma Agrária?

DS: Neste ponto que eu vejo muitíssima importância do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos associados, no sentido de promover as mudanças nas políticas públicas necessárias para que essas coisas aconteçam. O que impede o melhor aproveitamento da natureza e dos recursos naturais são as barreiras institucionais, são questões políticas. Então cabe aos movimentos sociais mostrar o que precisa, porque infelizmente o governo que temos recebeu muito apoio dos movimentos sociais, mas pensa muito mais em dinheiro, em termos financeiros, em exportações. Isso sem reconhecer até mesmo em termos econômicos a importância que teria a Reforma Agrária. Não é uma questão apenas social.

As políticas públicas de incentivo a práticas como estas evoluíram durante este governo e os anteriores?

DS: Existem avanços no sentido de disponibilidade de crédito. Mas apenas emprestar dinheiro sem ter essas condições de organizar a produção e colocar no mercado, só cria uma dívida difícil de pagar. Seria muito importante criar as condições não apenas financeiras, mas institucionais para que se possa aproveitar melhor a terra e os recursos naturais para o bem-estar e qualidade de vida da população rural, que também tem peso no conjunto. Pensa-se às vezes que a população rural é uma espécie em extinção. Não é. No ano de 2050, devemos ter mais de 60 milhões de pessoas morando no campo ou em pequenos núcleos urbanos no interior. É a população de um país como a França. É muita coisa.

Quais os perigos o agronegócio pode representar para práticas como a produção florestal?

DS: O problema do agronegócio é esta tentação de achar que se vai gerar muito dinheiro por muito tempo. O agronegócio com monocultivos não dá certo a médio e a longo prazo. É muito mais adequado para climas que tem o frio, que diminui a biodiversidade, portanto as pragas e as doenças. É possível produzir, mas exige muitos produtos químicos, além das máquinas, então cria muita insegurança financeira. O que acontece nestes casos é que destrói a biodiversidade, fazendo novos desmatamentos, prejudica os recursos hídricos, aumentando a erosão, a arenização e a poluição das águas. Além disto destrói as comunidades locais.