Trabalhadores do RS lançam manifesto em defesa da agroecologia

Nessa semana, o Semapi (Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícia, Informações e Pesquisa e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul) irá lançar o Manifesto “A favor da Agroecologia e do desenvolvimento rural sustentável”, durante VIII Seminário Estadual e VII Seminário Internacional sobre Agroecologia. A atividade acontece até quinta-feira (23/11).

O documento critica o atual modelo de desenvolvimento e aponta para o perigo da exploração indiscriminada dos recursos naturais. “Estamos diante de um momento decisivo da encruzilhada civilizatória. A pergunta que se impõe fazer é: será mesmo que este é o único caminho? Será que não somos capazes de propor e construir caminhos alternativos de desenvolvimento, que conduzam a um uso mais parcimonioso dos recursos naturais? Acreditamos que sim, e que os principais limites a essa mudança nos rumos do desenvolvimento não são de natureza tecnológica, mas que respondem a interesses econômicos que não raro se sobrepõem aos imperativos sociais e ambientais”, afirma o texto.

O documento propõe a construção da sustentabilidade como alternativa: “somos responsáveis pelos hábitos que cultivamos, assim como pelas atitudes que caracterizam o nosso estilo de vida. Por isso é fundamental fazer a nossa parte, e uma das formas de fazê-lo é através do consumo consciente, dando preferência ao consumo de produtos agroecológicos. A maneira como nos relacionamos com o meio ambiente pode ajudar a manter ou a destruir os recursos naturais”.

Leia abaixo a íntegra do texto

Manifesto

A FAVOR DA AGROECOLOGIA E DO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

“Se o que foi modelado pela tecnologia, e continua a ser,
parece estar doente, seria talvez oportuno
dar uma olhada na própria tecnologia.”
E. F. Schumacher (O Negócio é ser Pequeno)

Estamos vivendo uma mudança época, mas fundamentalmente vivemos uma época de mudanças. O século que ficou para traz foi marcado por muito desenvolvimento e pouca sustentabilidade. O espetacular avanço verificado em diferentes campos do conhecimento científico e tecnológico permitiu conquistas importantes, mas muitas vezes tomou um rumo que coloca em risco a própria sobrevivência da humanidade, à medida que recursos naturais não renováveis explorados sem a mínima preocupação com o seu esgotamento e com os efeitos adversos que seu uso provoca.

Como conseqüência, o ar está se tornando mais poluído, as águas estão ficando mais contaminadas e até o alimento que consumimos muitas vezes chega às nossas mesas envenenado. Dirão alguns que esse é o preço do progresso, que o importante é o crescimento econômico, o aumento do consumo, etc. Mas sabemos todos que os benefícios gerados não são para todos e que, a persistir o atual modelo de desenvolvimento, as gerações futuras ficarão privadas de alguns dos direitos básicos que um ser humano hoje ainda hoje pode usufruir, como o acesso à água limpa para consumo e ao ar despoluído para respirar.

Estamos diante de um momento decisivo da encruzilhada civilizatória. A pergunta que se impõe fazer é: será mesmo que este é o único caminho? Será que não somos capazes de propor e construir caminhos alternativos de desenvolvimento, que conduzam a um uso mais parcimonioso dos recursos naturais? Acreditamos que sim, e que os principais limites a essa mudança nos rumos do desenvolvimento não são de natureza tecnológica, mas que respondem a interesses econômicos que não raro se sobrepõem aos imperativos sociais e ambientais.

Como mudar isso? Talvez o primeiro passo seja uma mudança de foco, isto é, mudarmos a maneira de perceber o meio no qual estamos inseridos e do qual somos parte inseparável (ainda que nem sempre nos apercebamos disso). Quando nos referimos à sustentabilidade estamos na verdade falando da maneira como nós, seres humanos, nos relacionamos com o meio circundante, inclusive com as demais pessoas que habitam na nossa comunidade, vila, município ou região.

É na postura de separação do ser humano da natureza, na atitude de colocar-se acima e sobre a natureza (como se estivéssemos atrás da tela de um computador controlando variáveis como a eliminação e introdução de outras espécies, poluição do solo, água e ar sem que isso também nos afetasse), que está a raiz da insustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento e do estilo de vida decorrente do mesmo. É necessário mudar a postura de dominação, de dilapidação dos recursos naturais a qualquer custo, em nome de interesses exclusivamente econômicos, por um sentimento de pertença, de coexistência, de que somos parte do ambiente. Não se trata apenas de ação, mas de interação com o meio em que vivemos. E isso tem implicações profundas, que se traduzem em ações concretas em diversos níveis.

No âmbito da comunidade ou região, significa que o desenvolvimento deve ser planejado tendo em conta a construção de contextos de sustentabilidade, os quais são ambiental, social e culturalmente definidos, e coletivamente construídos. No terreno da vida cotidiana, nos remete a um conjunto de valores e de atitudes que dizem respeito ao nosso estilo de vida. Afinal, vivemos em uma sociedade consumista, na qual as pessoas cada vez mais parecem movidas pela criação permanente de novos desejos, cuja satisfação muitas vezes se dá às custas da privação das necessidades de muitos. Sabemos que existe uma correlação direta entre o padrão de consumo e a produção de lixo.

Neste cenário, gestos aparentemente pequenos adquirem significação maior, não tanto pelo impacto direto e imediato que possam representar (muito embora ele também se faça sentir), mas muito especialmente pelo seu potencial de desencadear mudanças moleculares na consciência individual e coletiva em relação aos problemas sócio-ambientais. Atitudes singelas como a separação e reciclagem de lixo, o ato de não jogar um papel na rua, não fumar em uma sala fechada, evitar o desperdício, mais do que simples hábitos, são reveladores de valores. Não é uma questão de ter ou não dinheiro para comprar e descartar, mas uma questão de postura. É por isso que a mudança maior passa necessariamente pela dimensão da educação.

Se compreendermos que o ambiente é um todo, que inclui os seres humanos, então é fundamental que cada um de nós faça a sua parte, seja na sua casa, na rua, na escola, no bairro, município ou região onde vivemos, à maneira da máxima dos ecologistas: “pensar globalmente, agir localmente”. Afinal, a consciência ambiental só adquire real significação quando se traduz em prática cotidiana.

A aplicação dos princípios da Agroecologia (entendida como ciência que propõe um conjunto de princípios e metodologias que apóiam no processo de transição agroecológica), alia conhecimentos científicos com ações participativas, de respeito e valorização do saber local, visando a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Sob esse enfoque, o que deve ser generalizável são os princípios, que se traduzem em formas tecnológicas específicas, de acordo com a realidade local. Princípio, como muito bem definiu um agricultor, é onde tudo começa. Mais do que uma visão econômica, trata-se de uma questão de consciência, de cidadania.

Somos responsáveis pelos hábitos e que cultivamos, assim como pelas atitudes que caracterizam o nosso estilo de vida. Por isso é fundamental fazer a nossa parte, e uma das formas de fazê-lo é através do consumo consciente, dando preferência ao consumo de produtos agroecológicos. A maneira como nos relacionamos com o meio ambiente pode ajudar a manter ou a destruir os recursos naturais.

O SEMAPI acredita na força desta proposta e saúda a todo (a)s o(a)s participantes deste evento.