MST inicia nova marcha no RS

Cerca de 250 Sem Terra iniciaram esta manhã uma marcha das proximidades da fazenda Palermo, município de São Borja (RS), até o Fórum da cidade. O assentamento definitivo de 56 famílias na fazenda, de 1.151 hectares, depende de uma decisão da Justiça sobre o preço que o Estado deve pagar pela área, desapropriada em 2001.

O proprietário recorreu da decisão, mas perdeu em todas as instâncias. As famílias selecionadas para serem assentadas na fazenda esperam há dois anos, acampadas, o desenrolar do processo judicial.

Na semana passada, as famílias reocuparam a fazenda reivindicando a agilização do processo de assentamento e foram violentamente despejadas. “Com essa marcha esperamos que o juiz coloque fim a esse sofrimento. Ele só tem que decidir o valor total que o Estado tem que pagar”, explica Nilton de Lima, integrante da coordenação estadual do MST. A marcha percorre 24 quilômetros hoje e amanhã mais 10 quilômetros, até o Fórum de São Borja.

Com a mobilização, sobe para três as marchas do MST no Rio Grande do Sul. Em 13 de novembro, cerca de mil militantes do Movimento começaram as ações, para reivindicar o avanço da Reforma Agrária no estado. A meta definida pelo próprio Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para 2006 era assentar 1.070 famílias, mas até agora só 98 famílias foram assentadas.

Marcha da região metropolitana aguarda decisão do STF

Uma das marchas, com cerca de 500 pessoas, saiu de um acampamento no município de Arroio dos Ratos rumo à Fazenda Cabanha Dragão, em Eldorado do Sul, região metropolitana de Porto Alegre. Esta marcha está parada na rodovia BR 290, no trevo que dá acesso a Charqueadas, aguardando decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a desapropriação da área. O Incra recorreu ao STF para suspender o efeito da portaria que determina que terra ocupada por sem-terras não pode ser desapropriada. O Instituto entende que no caso dessa fazenda, a lei 4.132, que trata das situações de desapropriação em áreas de conflito, deve ser cumprida. Além disso, um inquérito da polícia federal concluiu que a área era utilizada, entre outras coisas, para tráfico de armas.

Os fazendeiros da região se mobilizaram e acamparam próximo dos Sem Terra para impedir a entrada das famílias na Cabanha Dragão. “Aqui estão bem evidentes os dois projetos que estão em disputa no campo brasileiro. Enquanto os fazendeiros se mobilizam para defender uma área que era usada para o crime, nós lutamos para que nesta terra 72 famílias sejam assentadas e produzam alimentos”, afirma Mauro Cibulski, da coordenação estadual do MST.

Clima tenso em São Gabriel

A outra marcha do MST, iniciada na semana passada, partiu de Livramento para a Fazenda Southal, um latifúndio de 13 mil hectares no município de São Gabriel. A marcha está na rodovia BR 290, entre os municípios de Rosário do Sul e São Gabriel.

Centenas de fazendeiros da região trancaram a rodovia e impedem a entrada da marcha em São Gabriel. O clima é tenso desde ontem. Poucos metros separam os Sem Terra dos latifundiários.

O MST reivindica que a fazenda seja desapropriada para Reforma Agrária e os fazendeiros apóiam a compra da área pela Aracruz Celulose. O Incra garantiu que vai trabalhar para transformar a fazenda em assentamento, independente de quem seja o proprietário.

“Na fazenda Southal podem ser assentadas 600 famílias, gerando dois mil empregos diretos. A Aracruz gera só um emprego a cada 175 hectares cultivados com eucalipto. Essa negociata da Aracruz com a Southal é a prova de que o deserto verde, além de degradar o meio ambiente, impede o avanço da Reforma Agrária e da agricultura camponesa”, diz Frei Zanatta, da Comissão Pastoral da Terra .

Hoje pela manhã a polícia rodoviária informou aos Sem Terra que a Justiça vai garantir a desobstrução da rodovia, o que deve viabilizar a retomada da marcha ainda hoje.