Sete estados contam com escolas intinerantes no Brasil
Lá se vão dez anos desde que foi aprovada a primeira escola itinerante em acampamentos do MST. De lá para cá, o tempo consolidou a filosofia educar os jovens sem-terra à beira da estrada, nas fazendas ocupadas, junto com os acampamentos do movimento. Em sete estados do país, já é possível que numa nova área ocupada pelo movimento a escola seja a primeira obra a ser construída para a comunidade. Com isso, as crianças e jovens não deixam de estudar, mesmo em condições adversas.
A necessidade das escolas itinerantes surgiu em um contexto no qual as crianças e jovens dos acampamentos encontravam dificuldades de locomoção para as escolas das cidades próximas. Normalmente, não havia vagas disponíveis. E quando havia, as escolas convencionais estavam distantes dos anseios de um jovem do campo. A alternativa foram as escolas “nômades”, que começou em 1996 no Rio Grande do Sul.
Atualmente, escolas itinerantes já funcionam no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Alagoas, Pernambuco (em vias de ser aprovado) e no Piauí (em fase de legalização). No total, são 45 escolas nacionais em pleno funcionamento, 350 educadores do movimento e 3 mil educandos (crianças e adultos). Já passaram pelas escolas itinerantes 10 mil educandos.
A Jornada de Educação na Reforma Agrária, que acontece até quinta-feira (30/11), no Paraná, vai discutir o papel das escolas itinerantes, seus fundamentos, limites e potenciais para o processo educativo dos jovens sem-terra. “A escola tradicional é preparada para um modelo específico de criança, e as crianças se sentem inferiores. Na escola itinerante, ao contrário, a criança chega lá e se sente perto”, conta Alessandro Santos Mariano, do setor de educação do MST do Paraná.
A maioria dos jovens também não se identificava com a visão de mundo dos professores da escola tradicional. “O modelo de escola hoje é falido, é cansativo, o professor não tem motivação”, completa o educador.
A escola funciona dentro do acampamento e reflete os problemas dos trabalhadores rurais sem-terra, que pautam os “temas geradores”, estudados ao longo do ano. Dessa forma se estabelece um espaço de diálogo das famílias. As escolas itinerantes se tornaram um espaço da comunidade, que tem a responsabilidade pelo seu planejamento junto aos educadores e à coordenação.
Aprovada pelos Conselhos de Educação estaduais, com base na LDB (Lei de Diretrizes e Bases), seu método é desenvolvido de acordo com a realidade do campo, obedecendo aos parâmetros curriculares nacionais. Tem como princípio a pedagogia do movimento, baseada em Paulo Freire (1921-1997), um dos principais pensadores da educação no país e no mundo.
No papel de escola pública estadual, o seu funcionamento se dá em parceria com as secretarias estaduais de educação, que devem fornecer infra-estrutura e material escolar para os acampamentos. Isabela Camini, do setor nacional de Educação do MST, denuncia que nem sempre os governos estaduais cumprem seus deveres e, com isso, os acampamentos têm que se virar sozinhos debaixo das lonas pretas para manter a escola.
A linha pedagógica é elaborada pela “escola base” e modificada de acordo com a situação de cada acampamento. A gestão escolar é autônoma, uma vez que o Estado entra com o investimento mas não organiza o modelo. “A escola itinerante hoje é a que mais contraria a lógica capitalista, pela liberdade de poder construí-la”, afirma Camini.
Segundo ela, as secretarias estaduais não intervêm no conteúdo ensinado devido à credibilidade da pedagogia do MST. Mesmo os educadores de ensino médio, que devem ser indicados e subsidiados pelo governo, acabam se integrando ao cotidiano do MST para conseguir fazer um projeto educacional mais próximo da realidade dos alunos. O movimento recebe também educadores da EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Camini ressalta que cada estado tem a sua pedagogia em construção. O currículo também depende de cada região. No Paraná e no Rio Grande do Sul, as conquistas estão bem adiantadas. Dependendo do estado, há diferenças de concepções sobre as escolas itinerantes.
Em alguns estados, como no Paraná, são trabalhados “ciclos”, em vez de séries, oferecendo um tempo de formação necessário para o aluno obter aquele conhecimento. Ao passo que Santa Catarina adotou a chamada educação multiseriada, com um ou dois professores para várias séries.
Jornada de Educação na Reforma Agrária
Entre 26 a 30 de novembro, o MST promove a Jornada Estadual de Educação na Reforma Agrária, com o lema “Todas e Todos Sem Terra Estudando”, no Centro de Convenções, em Cascavel, no Paraná, para discutir qual é o papel da educação na consolidação da democracia e na construção do projeto de desenvolvimento para o Brasil.
Programação
27/11
17h – A educação no projeto Popular para o Brasil
João Pedro Stedile – direção nacional do MST
28/11
8h – Educação do MST
Maria Izabel Grein – educadora especializada em educação no campo
15h – Debate sobre a Educação no MST
Conferência Aberta:17h
17h – O papel da educação no Projeto Popular Para o Brasil
Chico Alencar – deputado federal (PSOL-RJ)
20h – Lançamento do concurso de arte e educação no MST e Livros da Cultura do Paraná.
As escolas Itinerantes dos Sem Terra
45 escolas nacionais em pleno funcionamento
350 educadores do movimento
3 mil educandos (crianças e adultos)
10 mil educando passaram pelas escolas itinerantes
O Rio Grande do Sul foi o primeiro estado onde a escola itinerante foi aprovada (1996)
Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Alagoas, Pernambuco (em vias de ser aprovado), Piauí (em fase de legalização)
O que as escolas itinerantes têm
Oficinas de requalificação para adolescentes que não completaram os estudos;
Prioridade na produção coletiva
Busca de autonomia e autogestão da comunidade;
Conhecimentos que partem da realidade local para a global;
Avaliação por “parecer”, que verifica os vários momentos do educando
Oficinas em lugar do reforço escolar.
Outros tempos educativos, como os “tempo oficinas”, nos quais a comunidade é convidada a ensinar conhecimentos ligados à terra, natureza, agricultura, cultura, teatro, e um tempo dedicado a preservar a memória do movimento.