Todos e todas Sem Terra estudando – Jornada de Educação do Paraná
Caros amigos e amigas do MST,
Estudar é direito de todos e todas e não privilégio de alguns. É com essa convicção que desde 1984, nas ocupações de terra e marchas, o MST luta por uma política de Reforma Agrária, que inclua o tema da educação pública, de qualidade e gratuita para o campo e no campo. Em toda a nossa história, os Sem Terra conquistaram aproximadamente três mil escolas públicas nos acampamentos e assentamentos em todo país, abrindo as portas de um ensino de qualidade a 200 mil crianças e adolescentes.
Para o MST, pensar a educação no e do campo é pensar em um processo de humanização e de resgate da dignidade. A escola do campo não deve ser ignorada e marginalizada, como é a lógica implementada em grande parte do país. Ela tem que ser uma educação inovadora, que contribua para que os trabalhadores e as trabalhadoras do campo se apropriem da sua história, tornando-se sujeitos com consciência e capacidade de transformar a realidade social onde vivem. Trata-se de uma educação dos e não para os que vivem no campo, combinando o estudo com trabalho, cultura e organização coletiva, cooperação agrícola e solidariedade com os trabalhadores urbanos, ou seja uma educação que recupere valores socialistas.
O MST tem vários exemplos da prioridade que a educação recebe na luta pela Reforma Agrária, como a Escola Itinerante, que há dez anos desafia a exclusão das crianças acampadas. De lá para cá, o tempo consolidou a filosofia de educar as crianças e os jovens Sem Terra à beira das estradas, nos latifúndios ocupados, junto com os acampamentos do Movimento. Em sete estados do país, já é possível que numa nova área ocupada pelo Movimento, a escola seja a primeira obra a ser construída coletivamente para a comunidade. Com isso, as crianças e jovens não deixam de estudar, mesmo em condições adversas e precárias.
A necessidade das escolas itinerantes surgiu em um contexto no qual as crianças e jovens dos acampamentos encontravam dificuldades de locomoção para as escolas das cidades próximas. Normalmente, não havia vagas disponíveis. E quando havia, as escolas convencionais estavam distantes dos anseios da realidade do campo.
Atualmente, escolas itinerantes já funcionam no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Alagoas, Pernambuco (em vias de ser aprovado) e no Piauí (em fase de legalização). No total, são 45 escolas nacionais em pleno funcionamento, com mais de 350 educadores do movimento e mais de quatro mil educandos e educandas. Já passaram pelas escolas itinerantes 10 mil educandos e educandas.
Outro exemplo é Educação de Jovens e Adultos, que trabalha a alfabetização dos Sem Terra com conteúdos relacionados à realidade e à vida dos sujeitos do campo. Teve início com a Campanha de Educação de Jovens, Adultos e Idosos em 1991. Em cinco anos, o ensino de jovens e adultos chegou a 18 estados, possibilitando a formação de 600 turmas e oito mil educandos e educandas. O projeto continuou com parcerias entre Secretarias de Educação e universidades nos estados. Já durante os três anos do projeto “Brasil Alfabetizado”, foram alfabetizando 5.500 camponeses. A iniciativa teve início em 2003 e funciona em 23 estados. Antes disso, até 2002, foram alfabetizados mais de 16 mil trabalhadores do campo. Hoje mais de 50 mil pessoas já aprenderam a ler e escrever.
Além disso, foram capacitados mais de 1.800 educadores e educadoras, tarefa que para nós deve ser sempre muito valorizada. Educador é aquele cujo trabalho principal é o de fazer e o de pensar a formação humana, seja ela na escola, na família, na comunidade, no movimento social. Eles são integrantes do MST e moram nos assentamentos e acampamento, o que facilita o aprendizado coletivo e pedagógico, pois convivem no mesmo cotidiano dos educandos.
O povo do campo quer estudar, aprender e fortalecer a cultura camponesa. Por isso luta por escolas e realiza jornadas da educação, como a que acontece entre os dias 26 e 30 de novembro em Cascavel, no Paraná. Cerca de três mil educadores e educadoras participam do encontro, que tem como lema “Todas e Todos Sem Terra Estudando”.
Exigimos que o estado brasileiro cumpra com sua função e crie condições reais para a construção de escolas. O desafio é superar a exclusão do conhecimento, como já vem sendo feito nos acampamentos e assentamentos do MST, territórios livres do analfabetismo. Quando rompemos a cerca do latifúndio, rompemos a cerca da ignorância e do capital e construímos ali um novo futuro, mais fraterno e humano.
Forte abraço,
Secretaria Nacional do MST.
Breves
Tupinikim e Guarani continuam esperando assinatura do ministro da Justiça
Os indígenas Tupinikim e Guarani continuam esperando a decisão do ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos, sobre a demarcação de 18.070 hectares no Espírito Santo. Em 12 de setembro, a Funai (Fundação Nacional do Índio) encaminhou dois processos para o Ministério da Justiça para a imissão das portarias de delimitação, mas nada foi decidido. Enquanto isso, a empresa Aracruz Celulose continua explorando a área. Para contribuir com a causa indígena e exigir rapidez no processo de demarcação, escreva [email protected]
Atos pedem nacionalização das reservas de gás e petróleo
Atos realizados em São Paulo (SP), Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ) reivindicaram e a nacionalização das reservas brasileiras de gás e petróleo, contra a Oitava Rodada de Licitações, que acontece na semana de 27 de novembro. A Petrobrás, que detém as reservas, tem 49,5% de suas ações poder de investidores estrangeiros. As reservas brasileiras vêm sendo vendidas todos os anos por meio de leilões promovidos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), desde a quebra do monopólio estatal do petróleo, em 1997, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assinou a Emenda Constitucional n° 9. A situação foi regulamentada com a Lei do Petróleo (Lei 9.478), que deu origem aos leilões.
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Cartas
Fico impressionado todas as vezes que procuro pesquisar sobre o MST. Sou socialista e acredito num país melhor. Tenho também a plena certeza de que o 1º passo é a reforma agrária. Espero um dia poder lutar junto com vocês! Luan Chagas.
Identifico no MST a maior expressão de luta social no Brasil. Como estudante de História hoje, procuro munir-me de informações a respeito da trajetória, postura e atuação dos Sem Terra, na esperança de logo que formado somar forças com vocês. Até Breve! Fausto Augusto.