Pará vai apurar envolvimento de policiais em ameaça de morte

Fonte governo do Pará

A secretária de Segurança Pública do Pará, Vera Tavares, garantiu que o Estado vai apurar as ameaças de morte sofridas por famílias de agricultores acampadas na área da fazenda São Felipe, em Irituia. O anúncio foi feito durante reunião ontem com representantes do MST, da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e de órgãos estatais e federais. Segundo as denúncias, policiais estariam envolvidos com latifundiários da região.

A Polícia Civil se comprometeu em designar uma equipe policial para ouvir os depoimentos dos sem-terra e coletar provas para instauração do Procedimento Administrativo Disciplinar, tanto na Corregedoria da Polícia Civil quanto na PM, para elucidar os fatos.

O delegado geral Raimundo Benassuly disse que, após ter tomado conhecimento das denúncias, encaminhou o caso ao diretor de Polícia do Interior, delegado Miguel Cunha, e à Corregedoria Geral de Polícia. O encontro contou ainda com as presenças de membros do Iterpa (Instituto de Terras do Pará); da Dema (Divisão Especializada em Meio Ambiente); e da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. O MST cobrou dos órgãos estaduais uma operação de desarmamento na área para retirar armas das mãos dos jagunços e prender pistoleiros; além de punir os policiais acusados de envolvimento com os fazendeiros.

Os representantes do MST denunciaram que em janeiro deste ano 117 famílias ocuparam o terreno da fazenda São Felipe por considerá-la improdutiva. No momento da ocupação, “os trabalhadores rurais foram recebidos a bala por jagunços que, usando de violência física e ameaças de morte, tomaram os pertences dos agricultores”. Apesar das ameaças, as famílias montaram um acampamento a 300 metros da fazenda.

Ainda, conforme o MST, na quinta-feira passada, as famílias de agricultores foram abordadas por um homem conhecido por Paulo Costa, que seria fazendeiro da cidade de Castanhal, e por outro de nome José Anísio, também latifundiário. Os dois mandaram as famílias deixarem o local, após ameaçarem-nas de morte. “Tudo aconteceu diante dos policiais”, relataram os agricultores. Os representantes do MST acusaram outros dois latifundiários da região conhecidos por Mauricio e Sabazão pelas ameaças.

Segundo a denúncia do MST, policiais da região estariam dando cobertura aos latifundiários. “Todos os dias somos ameaçados por pistoleiros que atiram contra os trabalhadores e policiais ameaçam os agricultores de expulsá-los do local”, afirmaram. Por causa disso, o MST pediu intervenção ao Incra, que enviou ao local o ouvidor agrário do instituto, José Abulcater.

Durante a reunião, o ouvidor contou ter ido à região e lá disse ter visto oito seguranças da fazenda, todos armados, ameaçando atirar nos sem-terra caso tentassem entrar na área. Ele contou ter sido ameaçado com uma arma apontada em sua direção pelos seguranças. Afirmou ainda ter visto no local dois policiais, mas, segundo o MST, trata-se de três policiais, identificados como delegado Marcos Cerqueira, de Irituia; cabo Viana e sargento João, da PM. Segundo ele, o complexo da fazenda São Felipe é composto de três áreas de nomes Santa Bárbara I e II, Maria Bonita e São Judas Tadeu.

O superintendente regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em exercício, Elielson Silva, disse que, no total, a área da fazenda tem 481 hectares, mas que apenas 312 hectares apresentam registro em cartório. Ainda, segundo ele, a fazenda está localizada na área federal denominada Gleba Palheta, portanto, área da União. Silva sugeriu que profissionais da área técnica do Incra retornassem ao local para fazer um levantamento das famílias aptas a assentamento na área e avaliar a possibilidade de desconstituir a área grilada.