Violência no campo aumentou no governo Lula
Raquel Casiraghi
Agência Chasque
Ao contrário do que organizações sociais e movimentos de direitos humanos esperavam, os conflitos e os casos de violência no meio rural cresceram nos três primeiro anos do governo Lula. A constatação está no livro Direitos Humanos no Brasil 2 – Diagnóstico e Perspectivas, escrito por organizações do campo e do movimento de direitos humanos.
Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) utilizados no estudo mostram que o número de ocupações de terra, que no início de 2002 estavam em 26, chegou a 437 em 2005. Esse crescimento se refletiu no número de assassinatos cometidos pelos poderes público e privado, que aumentou 69% de 2002 para 2003. No entanto, em 2004, as mortes caíram para 39, e em 2005 para 38. Antônio Canuto, coordenador da Comissão Pastoral Terra, afirma que a redução dos assassinatos se deve à retração dos atos dos ruralistas e não da violência utilizada por eles.
“Os números da violência cresceram assustadoramente no primeiro ano de governo, sobretudo. Os movimentos sociais imaginavam que o Lula faria a reforma agrária e, então, foram para cima. Já o latifúndio também achava que o Lula iria fazer a reforma agrária. Então usou de todos os instrumentos que tinha em mãos para tentar barrar a reforma. Agora já no 2º, 3º e 4º anos o número de conflito diminuiu porque os fazendeiros viram que o Lula não iria fazer nada”
O estudo também aponta que nos casos de conflitos no campo a Justiça atua como uma forte aliada dos ruralistas. No período analisado pelo livro, mais de 100 mil pessoas por ano sofreram despejo de terra. Somente de 2002 a 2003, quando o número de ocupações aumentou consideravelmente, os despejos tiveram um acréscimo de 263%.
Antônio Canuto, da CPT, afirma que a aceleração da reforma agrária e o combate das grilagens de terra por parte do governo federal são formas eficazes de minimizar a violência no campo.
“A minimização da violência seria fazer a reforma agrária. Tentar assentar as famílias e colocar um freio na grilagem de terras, porque é nessas áreas em que acontecem o maior número de casos de violência. Outro fator seria incentivar a mudança no modelo agrícola, incentivando ainda mais a agricultura familiar e não o agronegócio”, diz.
Atualmente, cerca de 120 mil famílias vivem em beiras de estrada no Brasil. Somente em 2006, o Ministério do Desenvolvimento Agrário anunciou o assentamento de quase 200 mil famílias, mas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) contesta o número e afirma que foram pouco mais de 80 mil famílias em todo o país.