Sem Terrinha reivindicam desapropriação da Coqueiros a Ministério Público

Os Sem Terrinha que integram a marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que está em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, fizeram ontem, dia 17, uma marcha com seus pais até Ministério Público Estadual, no centro da cidade. As crianças e adolescentes entregam cartas ao promotor Gilson Medeiros, em que reivindicam a desapropriação da Fazenda Coqueiros, para que suas famílias possam ser assentadas.

Os Sem Terrinha também escreveram sobre a situação precária em que vivem nos acampamentos, sem infra-estrutura adequada e atendimento de saúde e educação escasso, devido ao pouco investimento dos governos federal e estadual.

A coluna de Passo Fundo possui cerca de 180 crianças e adolescentes, que acompanham os seus pais na marcha em direção à Fazenda Coqueiros. As famílias estão alojadas no Ginásio Teixeirinha há cerca de uma semana e devem permanecer na cidade até o dia 25. As outras duas colunas estão acampadas em Palmeiras das Missões e em Ibirubá.

Atualmente 2.500 famílias estão acampadas em beiras de estrada no Rio Grande do Sul, algumas há mais de cinco anos. Com a marcha, o MST critica a lentidão no processo da Reforma Agrária no país e no Estado por parte dos governos estadual e federal. Os Sem Terra também querem a desapropriação, por interesse social, da Fazenda Coqueiros, área de pouco mais de 9 mil hectares localizada na região Norte do Estado. Hoje trabalham cerca de 20 pessoas na área. Com a desapropriação, podem ser assentadas em torno de 460 famílias Sem Terra.

Entidades querem que MST em Passo Fundo

Entidades civis de Passo Fundo estão se mobilizando para que os integrantes do MST possam permanecer na cidade. Na semana passada, uma entidade de classe da região entrou com pedido de Ação Civil Pública nos Ministérios Públicos Estadual e Federal para que os Sem Terra fossem retirados da cidade, alegando perigo de confronto com os ruralistas. O tema foi abordado ontem, dia 17, em carta entregue pelos Sem Terrinha ao promotor Gilson Medeiros, do Ministério Público Estadual.

Na quinta-feira passada, dia 11, representantes de 30 organizações, sindicatos, entidades, movimentos sociais e advogados de Passo Fundo, que representam em torno de 50 mil trabalhadores, estudantes, mulheres e outros segmentos da sociedade, visitaram e participaram de uma reunião com o Ministério Público Estadual e Federal de Passo Fundo e representante do Incra, para pedir que MST possa permanecer na cidade.

As organizações avaliam que a permanência do MST na cidade é importante para o debate sobre a questão da Reforma Agrária e a importância da desapropriação da Fazenda Coqueiros. Na área, que possui mais de 9 mil hectares, poderiam ser assentadas cerca de 400 famílias. As entidades também entendem que é direito do MST, como de qualquer organização social ou cidadão, poder ir, vir, permanecer ou sair de qualquer local, de se manifestar na sociedade e reivindicar por seus direitos.

A presença do MST na cidade não significa conflito, pois as famílias apenas estão reivindicando os seus direitos. Em nenhum momento da marcha, os Sem Terra realizaram algum ato de violência ou que incitasse o conflito. Em todos os momentos que isso ocorreu, as ações partiram de ruralistas ou da própria Brigada Militar.