Laura da Fonseca e Silva
Laura da Fonseca e Silva. Comunista, feminista e poeta. Declamava nos salões literários do Rio de Janeiro na primeira década do século 20. Ela se casou com Octávio Brandão – anarquista e futuro dirigente do Partido Comunista do Brasil – em 1919, “sem padre e sem juiz”. Após o casamento, – a partir de então Laura Brandão – sua vida muda de rumo e sua poesia muda de tom. “Deixa os salões literários e sua voz passa a ser ouvida nas ruas, comícios e greves operárias, quando, com dignidade, enfrentou a polícia na defesa de uma sociedade mais justa e fraterna”, afirma a historiadora e pesquisadora do Centro de Memória da Unicamp, Maria Elena Bernardes. Tornou-se uma das primeiras agitadoras comunistas brasileiras. Discursava nas portas das fábricas e ajudava editar o jornal A Classe Operária.
Sua participação mais relatada pelos amigos da época é a do comício na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, em 25 de maio de 1929, quando em uma liderança ímpar domina os soldados que avançavam contra os manifestantes. Foi presa e agredida várias vezes pela polícia e acabou sendo expulsa do país – pelo Governo de Getúlio Vargas – juntamente com sua família após a Revolução de 1930.
Exilou-se na URSS onde trabalhou na rádio Moscou e contribuiu no movimento de resistência às tropas nazistas que ocuparam aquele país em junho de 1941. Em 1928, ela fundou o Comitê das Mulheres Trabalhadoras e durante o exílio – que durou dez anos – atuou na Rádio de Moscou, realizando transmissões especiais para o Brasil. Durante a guerra, Laura trabalhou na preparação de trincheiras em Moscou, o que comprometeu sua saúde. Obrigada a retirar-se da capital com a família, faleceu de leucemia, em Ufá, capital da Bashiquíria, em 28 de janeiro de 1942, pedindo para retornar ‘viva ou morta ao Brasil’.
Recordam os seus biógrafos que a sua leitura diária, até os derradeiros momentos, foi Dom Quixote, de Cervantes. Espelhava a sua vida na imagem quixotesca, procurando o caminho da felicidade e do amor para com os seus irmãos.
Deixou 4 livros de versos e uma extensa biografia de lutas e conquistas pelos Direitos da Mulher. Vigorosa, cheio de alento e perseverança, sonhava com a paz da humanidade e tinha os olhos voltados para a beleza da vida.
Um soneto datado de janeiro de 1915:
CÉU
Acredito no Céu, no Espaço, no Infinito,
Muito mais, muito mais que na Terra e no Mar.
Bendita fé, bendito amor! Ideal bendito
Com que vou definhando aos poucos, devagar…
Em versos, toco, trago, aspiro, escuto, fito
A grande dor: e então tudo me vem provar
Que o Sol da minha vida – este clarão aflito!
Antes do meio-dia, é luz crepuscular.
Morte, noite enluarada em que o Sonho fulgura,
Enquanto o Coração repousa sonolento,
Livre do sangue, o qual, agora, é luar também…
E assim, que alívio bom, que sagrada ventura:
Depois de uma existência atroz de esquecimento,
Morrer – ir para o Céu da memória de Alguém!
Para saber mais: Laura Brandão: a invisibilidade feminina na política, de autoria de Maria Elena Bernardes, publicado pelo Centro de Memória Unicamp.