Felisburgo: três anos de impunidade

Por Juliano Domingues, da Radioagência NP No dia 20 e novembro de 2004, 16 pistoleiros fortemente armados e encapuzados, incluindo o latifundiário Adriano Chafik Luedy, invadiram o acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), situado na fazenda Nova Alegria, localizada no município de Felisburgo, na região da Comarca do Jequitinhonha (MG), e que já estava ocupada desde 2002 por um total 200 famílias.


Por Juliano Domingues,
da Radioagência NP

No dia 20 e novembro de 2004, 16 pistoleiros fortemente armados e encapuzados, incluindo o latifundiário Adriano Chafik Luedy, invadiram o acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), situado na fazenda Nova Alegria, localizada no município de Felisburgo, na região da Comarca do Jequitinhonha (MG), e que já estava ocupada desde 2002 por um total 200 famílias.

Adriano Chafik e seus jagunços assassinaram cinco trabalhadores do movimento Sem Terra. Outros 13 trabalhadores ficaram feridos, 30 barracos foram queimados e uma escola foi destruída. O caso retrata a violência relacionada à questão agrária no Brasil e a grande influência que os donos terras possuem principalmente nos municípios do interior.

Adriano é um réu confesso, mesmo assim o MST e demais movimentos sociais temem pela impunidade do fazendeiro e lutam para o desaforamento do caso, ou seja, para que Adriano seja julgado em Belo Horizonte (MG) local onde ele possui menos influência política. O julgamento ainda não tem data para ocorrer.

Em entrevista, o integrante da direção estadual do MST que trabalha na região da Comarca desde 2001, Ênio Bonemberger, fala sobre a situação das famílias, a fazenda Nova Alegria e sobre o julgamento do fazendeiro.

Qual a situação da fazenda Nova Alegria hoje?

Ênio Bonemberger: A Justiça determinou a demarcação de 568 hectares da fazenda que são terras devolutas e é essa onde as famílias estão morando hoje e trabalhando, e o restante da área que é em torno de 1700 hectares está em processo de desapropriação por interesse social. E as famílias continuam lutando pela fazenda, os supostos proprietários abandonaram essa fazenda, e hoje então quem controla a produção no local são essas famílias.

As famílias da dos Sem Terra continuam sendo ameaçadas?

EB: Continuam porque os irmãos do Adriano têm outra fazenda no município, então cada vez que há um encontro sempre há provocações. Então tudo isso a gente tem registrado em novos boletins de ocorrência. Mas para se ter uma idéia, antes do massacre havia pelo menos sete boletins de ocorrência e que foram encaminhados para o Ministério Público com as ameaças de morte e dentre as autoridades locais, ninguém tomou providência.

A que se deve o fato de a justiça saber dessas ameaças e não fazer nada?

EB: Para se ter uma idéia, no município de Felisburgo a polícia militar é composta por três policiais e que são fortemente ligados ao grupo [fazendeiros]. Nessas cidades do interior quem tem mais poder econômico tem o poder político. Então a influência nas autoridades locais é muito grande por parte dos fazendeiros.

Fale sobre o desaforamento do processo?

EB: Nós conseguimos uma vitória importante que foi o desaforamento do processo. Então quando acontecer o julgamento desse massacre, este será em Belo Horizonte (MG). Isso é uma vitória porque a influência do fazendeiro sobre um júri da capital seria bem menor. Há uma maior chance de imparcialidade e de punição para o crime. Se o caso fosse julgado na Comarca do Jequitinhonha há uma grande probabilidade de não haver condenação, como já aconteceu em outros casos lá no Jequitinhonha.

Mesmo sabendo que Adriano já confessou que participou do massacre, há ainda o temor que de que ele seja inocentado?

EB: Há o temor sim, porque a gente sabe que no Brasil há impunidade, e que os massacres que continuam acontecendo são fruto dessa impunidade. Então nós acreditamos ainda numa condenação, mas sempre há o temor uma absolvição e isso não seria nenhuma novidade se acontecesse no Brasil.