Levante comunista em Natal completa 72 anos
A insurreição de 1935 em Natal aconteceu no dia 23 de novembro. Oficiais tomaram o 21º Batalhão de Caçadores, em nome do tenente Luís Carlos Prestes, principal liderança comunista do Brasil à época, a frente da Aliança Nacional Libertadora (ANL). A revolução dominou Natal em questão de horas. A única resistência armada foi oferecida pelo quartel da Polícia Militar, onde teria acontecido a morte de Luiz Gonzaga.
O ano de 1935 foi bastante rico do ponto de vista da organização dos movimentos sociais revolucionários. A ANL era a principal referência política na época junto com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Era uma época também de intensificação da luta antifascista no mundo e no Brasil, diante da ameaça que se expunha em países como Alemanha e Itália. ANL se apresentava como uma grande frente formada por vários setores da sociedade brasileira comprometidos com a luta contra o integralismo no Brasil e o nazi-fascismo no mundo, contra o imperialismo e contra o latifúndio.
A disputa pelo poder foi colocada por parte dos membros da ANL, que em novembro de 1935, deflagraram, além do levante em Natal, outros levantes militares no dia 24 em Recife (PE) e dia 27 no Rio de Janeiro, então capital federal. Os levantes foram derrotados e violentamente reprimidos pelo Exército, com milhares de pessoas presas. Com a derrota do movimento, o governo de Getúlio Vargas intensificou a repressão contra as organizações. Foi decretado o Estado de Sítio, que se manteve durante todo o ano de l936 e aplicada a Lei de Segurança Nacional.
Contradições
A história da Insurreição de 35 sempre foi repleta de informações desencontradas e boatos. Os acontecimentos foram contados de diversas formas diferentes e muitas vezes contraditórias. Por exemplo: o paradeiro do governador Rafael Fernandes. Jornais da época, como a Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo), atestavam que o governador se encontrava abordo de uma ‘canhoneira mexicana’. Outras versões falam de asilo no consulado do Chile; de fuga em avião francês, até à versão mais acertada, que afirma o governador ter se abrigado no consulado da Itália.
Conta-se, também, que os revoltosos teriam feito grande número de saques no comércio da cidade, quando, na verdade, foram efetuados pela própria população. Segundo Praxedes de Andrade, um dos líderes do movimento, disse, em entrevista ao jornalista Moacyr de Oliveira há alguns, que “isso só teria ocorrido por conta do comércio não ter aberto as portas, apesar de o governo ter ordenado o funcionamento normal”.
O próprio nome como ficou conhecido a Insurreição abriga uma polêmica. ‘Intentona’ é uma palavra pejorativa que vem do castelhano e é traduzida como “tentativa louca”. Segundo o historiador Hélio Silva, seu uso era parte de uma campanha do governo Vargas para desqualificar o movimento comunista brasileiro. Outra polêmica trata de uma suposta “ordem de Moscou”. A história oficial relata que a Revolução fez parte de uma estratégia para implantar um governo comunista no Brasil.
Historiadores como Marly Almeida Viana discordam dessa versão. “Nunca houve qualquer diretiva da Internacional no sentido de um levante armado no Brasil”. A veracidade de um bilhete que foi enviado para a coordenação estadual do Partido Comunista é mais um ponto que precisa ser esclarecido. Apesar de ter sido planejado para ocorrer no dia 27, o levante em Natal foi antecipado para 23 de novembro de 1935. Mesmo depois sete décadas passadas e diversos estudos, as dúvidas permanecem.
Com informações do Overmundo – www.overmundo.com.br