Mais de 6.000 participam de Romaria contra transposição
A Romaria em defesa do rio São Francisco e em solidariedade ao bispo Luiz Flávio Cappio, que ontem, completou 13 dias em jejum contra a transposição, reuniu mais de 6.000 pessoas durante todo o dia. O ato ecumênico contou com a participação de povos e comunidades tradicionais, trabalhadores ligados a organizações sociais e movimentos populares, além de outros religiosos e representantes de partidos políticos. A tônica de todo o dia foi dada pelos protestos contra o projeto de transposição e o modelo de desenvolvimento que ele representa.
Com disposição física Dom Luiz permaneceu sentado dentro da sacristia, onde recebia as pessoas, uma a uma, que aguardava na fila para cumprimentar, pedir a benção ou apenas afirmar solidariedade. “Fisicamente posso me sentir bastante combalido, mas meu espírito está forte”, disse em entrevista e ainda completou “eu não coloco fé nos homens, a fé que nos move é a união que temos para continuar nossa luta”.
As pessoas, grupos e caravanas que chegaram das diversas regiões do país tiveram momentos de confraternização, assistir a discursos, almoço coletivo e partilhar a impressão sobre a posição do governo federal, que tem ignorado o apelo.
Durante a construção do que foi chamado de ‘parlamento popular’ os ‘romeiros’ assistiram a discursos de representantes de organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais. “A atitude do frei Cappio vem no sentido da revitalização da Bacia do São Francisco. Não existe revitalização com a transposição”, afirmou o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Tomáz Matta Machado.
No final da tarde a celebração de encerramento aconteceu nas margens da represa de Sobradinho. Camponeses, pescadores e outros levaram sementes e água. Dom Luiz também participou e de modo coletivo fez orações para benzer água, sementes, rio e a todos os presentes. Em seguida todos jogaram um pouco de água para o rio, como simbologia de dar um gole d’água ao São Francisco.
Exército
Um dos pedidos do frei Luiz para dar fim ao jejum, iniciado dia 27 de novembro, é a retirada imediata do exército da área da tomada de águas dos eixos norte e leste, em Petrolândia e Cabrobó, Pernambuco. Ele considera a presença dos militares uma situação ofensiva e insustentável.
Todavia, toda a celebração de encerramento foi acompanhada por militares da infantaria do Exército. Eles começaram a chegar há cerca de dois dias na região e não permitiram a passagem de quaisquer pessoas ou veículos pela estrada que circunda o lago artificial. Enquanto o ato final acontecia, os soldados permaneceram empunhando as armas a distância.
O domingo foi encerrado com uma missa ao ar livre, às 19h. Participam da romaria caravanas de todos os estados da Bacia – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e do Distrito Federal, e de outros estados, a exemplo do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Tocantins, Santa Catarina, além de outros países como a Áustria e a Alemanha.