Agricultura sustentável como forma de luta contra a mudança climática
Os membros da Via Campesina do Japão, Tailândia, Sri Lanka, Índia, Camboja, Noruega, Canadá, Moçambique e Brasil visitaram a vila de Jatiluwih, em Bali, para ver o cultivo de arroz em terraços [arroz cultivado em platôs] e analisar as formas de praticar a agricultura camponesa com os camponeses locais.
O objetivo da reunião é intercambiar experiências entre os camponeses, aproveitando a presença de agricultores de 200 países na Indonésia que estão participando das atividades paralelas da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 13).
A Via Campesina participou de uma marcha no sábado, dia 8, na região de Kuta, em Bali, para exigir justiça climática e medidas responsáveis por parte dos governos dos países industrializados para encontrar soluções para a mudança climática. Durante a marcha Celso Rivero, membro da Via Campesina e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, enfatizou a participação da Via Campesina durante as atividades paralelas da COP 13 em Bali.
Segundo ele, sua presença nas atividades “é parte do programa mundial de discussões e sugestões a governos de alternativas climáticos para que eles possam não somente aprovarem não somente o que lhes interessa, mas também o que interessa ao povo.” Além disso, “nosso escritório geral é lá, o que nos dá força. A Via Campesina acredita que a discussão sobre o sistema climático é parte da agenda”.
“Os agrocombustíveis são a ilusão dos povos”
Foi assim que Rivero definiu os agrocombustíveis, quando explicou que os agrocombustíveis vão afetar mais o sistema climático e os camponeses, principalmente porque o seu desenvolvimento implica a plantação de grandes monoculturas. O camponês disse que nesse país as monoculturas de cana-de-açúcar estão danificando o meio ambiente e os agricultores.
Segundo ele, é necessário discutir a produção de agrocombustíveis porque é uma ameaça ao mundo, já que a produção iria trazer mais fome no mundo. “Os camponeses irão parar de produzir comida para produzir agrocombustíveis, isso é parte das preocupações da Via Campesina”, ele disse.
Numa declaração, ele disse que é uma loucura produzir comida para alimentar carros enquanto os seres humanos estão morrendo de fome. “A produção de agrocombustíveis irá aumentar o aquecimento global, e não reduzi-lo, irá aumentar a monocultura intensiva de palma africana, soja, cana-de-açúcar e irá contribuir para o desmatamento e a destruição da biodiversidade”.
Por isso a Via Campesina exige que se destruam as campanhas para a produção de agrocombustível, porque está “tirando a terra dos pequenos agricultores para produção de comida industrializada de má qualidade – junk food e causando um desastre ambiental”.
Agricultura Sustentável é a Alternativa
A Via Campesina acredita que a agricultura sustentável e de pequeno porte contribui para o resfriamento do planeta. Rivero que para “resfriar” o planeta temos que proteger o meio ambiente. “Quando dizemos que podemos contribuir para o resfriamento do planeta isso será o resultado do cuidado dos camponeses com a terra e o meio ambiente”, explicou.
A produção em pequena escala, sem a necessidade de maquinários industriais de grande porte, que consome muita energia e libera os gases do efeito estufa; a agricultura orgânica, não usa agrotóxicos feitos de combustíveis fósseis; e tem a possibilidade de produzir energia solar, essas são algumas das características da agricultura sustentável que levaram a Via Campesina a dizer que os pequenos agricultores contribuem para resfriar o planeta.
Por isso o movimento internacional de trabalhadores rurais exige que se substitua a agricultura industrializada pela agricultura sustentável de pequeno, que são apoiadas por programas reais de Reforma Agrária.
Elas também exigem a promoção de “política sustentável de energia” como a declaração política do movimento lançada em Bali estabelece. “Isso inclui que os camponeses irão consumir menos energia e irão produzir energia solar e o biogás, ao invés da promoção em larga escala dos agro-combustíveis”.
A Via Campesina exige que governos façam políticas de comércio agrícola que promovam o consumo de alimentos locais, respeitando a determinação dos povos sobre seus sistemas de produção, consumo e comercialização de alimentos, no intuído de garantir a soberania alimentar dos povos. “Nós exigimos soberania alimentar e nos comprometemos a lutar juntos para obtê-la”, diz o documento.
Continuidade da Luta dos Movimentos Sociais Contra a Mudança Climática
Rivero disse que os representantes camponeses que participam das atividades paralelas da COP 13 em Bali tem a responsabilidade de dar continuidade a esse trabalho em seus próprios países, para que agricultores de várias partes do mundo saibam o que aconteceu aqui e se organizem na luta contra mudança climática.
O líder to MST disse que cada agricultor que foi a Bali pode “organizar seminários em seu próprio país para discutir com os camponeses e a sociedade civil sobre o meio ambiente, e também convidar essas organizações a se juntarem a nós”.
Finalmente Rivero falou sobre o assassinato de Valmir Mota em outubro. Ele era um trabalhador rural militante do MST e da Via campesina que segundo os agricultores foi assassinado por milícias armadas pagos pela empresa de biotecnologia suíça Syngenta. Valmir Mota levou um tiro durante uma ação da milícia contra o campo da Via Campesina no terreno da Syngenta no estado do Paraná, Brasil.
“Nós sabemos que lutar contra uma corporação transnacional é ir de encontro a um gigante, um dragão, porque tem muitos aliados políticos, dinheiro e meios”, disse Rivero, que destacou também que o esforço dos camponeses contra as corporações transnacionais continuará no Brasil.
Segundo ele, “a Via Campesina e o MST não querem saber quem matou Valmir Mota, queremos saber, queremos que se saiba, quem mandou matá-lo, não quem o matou, mas quem disse “mate” Valmir Mota, execute Valmir Mota e outros líderes do Movimento”, que conseguiram salvar a vida durante o ataque.
Rivero disse que outros quarto camponeses ficaram feridos pela milícia da Syngenta e, portanto, a tragédia poderia ter sido muito pior. “Mais de 500 balas foram atiradas contra nós naquele dia, a Via Campesina, isso significa que agora eles estão mandando as pessoas para matar trabalhadores”, concluiu o líder do MST.
Fonte: Radio Mundo Real