MST faz proposta e evita violência no RS
Apesar da posição do governo do estado e do secretário da Segurança do Rio Grande do Sul, José Francisco Mallmann, a proposta do MST foi aceita e a Polícia Civil fez a revista nos ônibus sem a necessidade de invasão do assentamento pela Brigada Militar, na tarde desta quinta-feira (17/01).
Entraram na Fazenda Anoni, onde o movimento realiza o 24º Encontro Estadual, 100 delegados da Polícia Civil e policiais militares, que fizeram a vistoria nos ônibus e não encontraram nenhum dos objetos registrados no mandado de busca e apreensão.
“Não queríamos conflito com a Brigada Militar e trabalhamos para fazer um acordo com base no bom senso, que tornasse desnecessária a invasão do nosso assentamento e evitasse um massacre”, disse Claudir Gaiado, integrante da coordenação estadual do MST e assentado na fazenda 20 atrás.
O MST avalia que o governo do estado foi obrigado a desistir da invasão do assentamento por causa da pressão de diversos setores da sociedade, entidades de direitos humanos, parlamentares, prefeitos e religiosos.
“O apoio que recebemos da sociedade foi fundamental para evitar um massacre por conta da ação da Brigada Militar, da demonstração de intolerância do secretário Mallmann e da governadora Yeda Crusius”, afirma Gaiado.
Na entrada da comissão para a revista dos ônibus, homens e mulheres fizeram um cordão de braços dados para impedir a entrada de um contingente fora do acordo da Brigada Militar, que durante toda a negociação provocou militantes do Movimento para criar um confronto.
“A mobilização de 1.000 homens na busca e apreensão de um rádio, um anel, uma máquina fotográfica demonstra como a prioridade do governo é atacar os sem-terra, não fazer a Reforma Agrária no estado”, acredita Gaiado.
Intolerância
Depois de um acordo firmado entre MST, Polícia Civil, Ouvidoria da Segurança Pública e 2° Vara Cível da Justiça de Carazinho, que previa a saída dos ônibus do assentamento para vistoria, sem a necessidade de entrada da Brigada Militar, o secretário da Segurança do Rio Grande do Sul, José Francisco Mallmann, colocou o cargo à disposição caso o governo do estado desista da invasão do local com efetivo de 1.000 soldados armados que disponibilizou para a ação.
Antes dessa decisão, o secretário havia se comprometido aos responsáveis por direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da sua assessoria, a retirar a Brigada Militar do local e respeitar as negociações em andamento.
A posição do secretário de Segurança colocou as negociações na estaca zero e voltou o clima de tensão na área.
“A decisão do secretário de segurança Mallmann demonstra falta de diálogo e intolerância, desrespeitando um acordo firmado entre as partes que evitaria um massacre. Defendemos que ele abandone o cargo por não ter condições de tratar de questões sociais”, disse Claudir Gaiado, integrante da coordenação estadual do MST e assentado na fazenda 20 atrás.
Cerco da Brigada
Na madrugada desta quinta-feira (17/01), a Brigada Militar do Rio Grande do Sul cercou com um efetivo de 1.000 soldados assentamento do MST na Fazenda Anoni, na manhã desta municípios de Pontão e Sarandi, no norte do Rio Grande do Sul. Dois acampamentos do movimento também foram invadidos por 800 policiais nesta manhã na região.
“A ação da Brigada é arbitrária e, pelo histórico de violência da polícia no estado, tememos que aconteça um massacre e a responsabilidade será do governo de Yeda Crusius e do governo Lula, uma vez que a área do assentamento é de responsabilidade federal”, disse Claudir Gaiado, integrante da coordenação estadual do MST e assentado na fazenda 20 atrás.
O MST realiza no assentamento o 24º Encontro Estadual, com a participação de 1.200 militantes (que levaram 200 crianças para poder participar), desde segunda-feira, quando foi realizada a ocupação simbólica da Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul, que possui o tamanho de 9.000 campos de futebol improdutivos.
A PM tem um mandato de busca e apreensão por um rádio de carro, um anel (sem qualquer especificação), uma máquina fotográfica (sem qualquer especificação) e R$ 200,00 referentes a essa ocupação, expedido pela Justiça Estadual.
Para fazer a operação na Fazenda Anoni, um assentamento criado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) há 22 anos, a polícia precisa de autorização da Justiça Federal.
O ministro da Justiça Tarso Genro e os responsáveis por direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) foram informados do cerco da polícia a área do encontro.
“A área é de assentamento e o mandado de busca de apreensão não justifica a mobilização de um efetivo de 2.000 homens no total para cercar um assentamento e invadir dois acampamentos. Isso é uma forma de perseguição política aos trabalhadores rurais que lutam pela Reforma Agrária”, afirma Gaiado.