“Único jeito de chamar a atenção é ocupar”

O bispo de Presidente Prudente, D. José Maria Libório Saracho (foto ao lado), representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica de São Paulo, disse que vai incentivar os sem-terra a continuar ocupando fazendas no Pontal do Paranapanema, onde 1500 famílias ligadas do MST estão acampadas.

“O único jeito de chamar a atenção do governo para a reforma agrária é invadir e criar uma situação de insegurança”, afirmou D. José Maria. “Animo o pessoal para que continue invadindo. As multinacionais não vão querer vir para cá se a situação for de insegurança. A cana-de-açúcar vai ser um fracasso e o governo vai ter de fazer alguma coisa pelo povo”.

A estrutura fundiária do Pontal está baseada em latifúndios e em terras que pertencem ao poder público, que estão sendo usadas ilegalmente para fins particulares. De acordo com a legislação, essas áreas devem ser retomadas para se transformem em assentamentos. No entanto, o governador José Serra (PSDB) encaminhou à Assembléia Legislativa um projeto de regularização das terras griladas na região.

D. José Maria se dispôs a falar com Serra e contou que ele lhe telefonou no ano passado, quando recebeu o secretário de Justiça, Luiz Antonio Marrey, para discutir o projeto. “Disse que viria bater um papo, mas não veio. Se ele quiser me escutar, vou dizer que ele está errado sobre esse projeto.” O bispo entende que seria “injusto e imoral” legalizar terras passíveis de destinação para a reforma agrária, quando há famílias passando fome nos acampamentos. “Falei isso para o Marrey e ele me disse que eu estava equivocado, mas os equivocados são eles”.

Segundo o bispo, nos últimos anos o Estado adquiriu, com dinheiro repassado pelo governo federal, as Fazendas Porto Maria, Santa Tereza, Santo Expedito e São Camilo, no Pontal, mas não assentou famílias em nenhuma. “Não adianta o Incra repassar dinheiro se o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) não coloca as fazendas em dia para o povo trabalhar.”

Ele alegou que o Estado devolveu R$ 20 milhões dos R$ 56 milhões repassados em 2007. “É uma vergonha devolver para Brasília a parte não gasta.” Marrey afirmara ao Estado que o repasse foi de R$ 38 milhões e R$ 34,4 milhões foram usados.

Com informações de O Estado de S. Paulo