Fazendeiro que mandou matar Dorothy é absolvido pela Justiça
Foi absolvido ontem o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida. Por cinco votos a dois, o Tribunal do Júri de Belém considerou que ele não é culpado do crime de homicídio doloso duplamente qualificado.
Segundo a apuração do jornal Folha de S. Paulo, o irmão da missionária Dorothy Stang, David Stang, de 70 anos, afirmou que está “chocado” com o resultado do julgamento. “Os argumentos do promotor foram excelentes, até mesmo melhores do que no último julgamento. Por isso tínhamos grande esperança e expectativa. Estou profundamente chocado”, disse.
“Como podemos, em um ano, sair de um placar pela condenação para exatamente o contrário, ele ser libertado? Por favor, me diga”, completou.
José Batista Afonso, advogado e integrante da coordenação nacional da CPT (Comissão Pastoral da Terra), afirmou que o resultado comprova as denúncias de impunidade no Estado.
“De mais de 800 assassinatos cometidos no campo no Pará nos últimos 35 anos, não há mais nenhum mandante cumprindo pena atrás das grades”, afirmou o advogado.
A liberdade do assassino
Bida, que estava preso desde março de 2005, foi libertado por volta das 20h de ontem. O Ministério Público vai recorrer da decisão.
O pistoleiro Rayfran das Neves, o Fogoió, que havia confessado ter atirado em Dorothy, também foi julgado ontem. Ele foi considerado culpado e sentenciado a 28 anos de prisão em regime fechado.
Foi o segundo júri de Bida no caso. O primeiro havia ocorrido em maio de 2007. Daquela vez, ele havia sido condenado a 30 anos de prisão.
Neves foi submetido ontem ao seu terceiro júri. No primeiro, em dezembro de 2005, foi condenado a 27 anos de prisão. Teve direito a novo julgamento, em outubro do ano passado, no qual a condenação foi mantida – e que foi anulado por supostas irregularidades.
Covardia
No dia 12 de fevereiro de 2005, a irmã Dorothy Stang, de 73 anos, missionária americana, naturalizada brasileira, da congregação das irmãs de Notre Dame de Namur, foi covardemente executada com seis tiros quando se dirigia a uma reunião com agricultores, no município de Anapu, região em que era tida como uma das lideranças na defesa das causas ambientais, agrárias e de direitos humanos, no estado do Pará.
O cruel assassinato da Irmã Dorothy foi mais um capítulo das histórias de violência, assassinatos, grilagem de terras, trabalho escravo e destruição que assolam a Amazônia.