“Precisamos de um novo método de trabalho de base”

O capitalismo mudou, especialmente nos últimos 20 anos. Diante disso, se o método de luta e organização do povo brasileiro contra o capital continuar no mesmo estágio, estará fadado ao fracasso.

“Precisamos de um novo método para fazer trabalho de base”, afirma o integrante do coletivo de cultura do MST, Rafael Villas-Boas, no 1º Encontro Nacional da Juventude do Campo e da Cidade, nas atividades desta terça-feira (12/7).

Segundo Rafael, novas formas de diálogo com o povo, trabalho de base, organização e luta precisam ganhar corpo para o enfrentamento efetivo com a classe dominante e toda a sua estrutura de poder, como a mídia, a publicidade e a repressão.

Há mais de 20 milhões de pessoas na faixa da pobreza. Por que não se consegue organizar essas público e levá-lo para a luta? Aí se encontra um dos maiores desafios da esquerda, especialmente da juventude.

O êxito depende do conhecimento da história do Brasil e do aprofundamento da análise sobre a vida e as dificuldades do povo brasileiro. Só dessa forma será viável sair das pautas econômicas, que caracterizam os movimentos reivindicatórios, chegar na discussão política e questionar, de fato, a classe dominante.

Um meio, aponta Rafael, é apresentar de forma articulada elementos da luta de diferentes movimentos sociais, expondo as opções que burguesia brasileira na história, dando a dimensão política de problemas que estão no seio da sociedade. A lei de terras de 1850 é um bom exemplo. Ela transformou as terras do país, que pertenciam exclusivamente à Coroa portuguesa, em propriedade privada, adquirida em troca de pagamento.

Os movimentos do campo atribuem a essa lei o surgimento do latifúndio, com a compra de grandes extensões de terra pelos senhores de escravo. O movimento negro, por sua vez, consideram a criação do “mercado de terras” um marco dos negros, que eram escravos e não tinham renda para permanecer na terra.

“Por que não fundir as duas leituras para deixar claro a opção política, que implicou a exclusão do negro e a consolidação do latifúndio? Somos vítimas de uma miopia”, pondera Rafael Villas-Boas. “Nunca juntamos isso”.

Por isso, a militância jovem tem a tarefa incluir na estratégia das organizações de esquerda elementos que estão no seio da sociedade, mas que estão de fora ou aparecem de forma marginal, como o alcoolismo, o vício e o tráfico de drogas, a violência doméstica ou a questão racial. O Brasil é a 2ª maior nação negra do mundo, ficando atrás apenas da Nigéria, e o 1º em população afro-descendente.

Desafios

Rafael Villas-Boas apresentou também números da pesquisa do Ibope sobre os movimentos sociais, encomendada pela mineradora Vale, que demonstra a necessidade de um salto de qualidade no trabalho de base e o trabalho dos movimentos sociais.

A primeira conclusão é que o principal meio de comunicação de referência da população sobre os movimentos sociais é a TV. “O nosso trabalho de base não chega a 90% das comunidades”, concluiu.

A partir disso, ele conclui que a principal tática de diálogo com a sociedade não pode ser um apenas jornal impresso, o que aponta a necessidade de um debate sobre formas efetivas para enfrentar esse quadro.

O ponto de partida é que não se pode separar a discussão de cultura, política e economia, para evitar a perda da totalidade e o desvirtuamento da estratégia. Para além disso, sobram mais dúvida que certezas.