Sem Terra lutam contra fraudes para garantir desapropriações

Os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra do acampamento de Belo Monte, em Jaguaruana vem atravessando um dífícil conflito para permanecerem na terra que cultivam. As fraudes cometidas por agropecuaristas da região estão inviabilizando os processos de desapropriação de áreas improdutivas: dias antes da vistoria do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), proprietários forjam a produtividade dos imóveis deslocando cabeças de gado para suas fazendas.

É o que ocorre com a área da fazenda Perereca, da empresa Jaisa (Jaguaruana Agro-industrial S.A). Desde abril de 2007, cerca de 120 famílias Sem Terra reivindicam a desapropriação da propriedade de Geraldo Rola, empresário que além da Jaisa é dono de mais oito empresas ligadas ao agronegócio.

No primeiro semestre deste ano, uma ação trabalhista movida pelos antigos empregados da Jaisa levou a fazenda a leilão. A partir de então, a intimidação dos Sem Terra acampados na área ficou por conta da atual proprietária Hil Distribuidora de Alimentos S.A., do empresário Antônio Hidelvânio Freire Saldanha.

O ponto crítico do conflito deu-se no último dia 23 deste mês de setembro, quando os trabalhadores encontraram uma arma de fogo – um rifle calibre 44 – que estava em posse de prepostos do proprietária da fazenda. O fato foi comunicado aos advogados que acompanham o caso, à Ouvidoria Agrária do Incra e à Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará. A arma foi apresenta às autoridades policiais do município de Jaguaruana.

Enquanto isso…

Os governos federal e estadual incentivam e divulgam o crescimento do agronegócio, e a Reforma Agrária continua parada. Em 2007, apenas 12 projetos de assentamentos foram criados no Ceará, sendo cinco reivindicados pelo MST.

O acampamento Belo Monte, na Fazenda Perereca-Jaisa é apenas um exemplo. Não bastassem os desatualizados índices de produtividade (baseados em censo agropecuário do IBGE de 1975), o governo do estado do Ceará fecha os olhos e muitas vezes é conivente com a simulação dos proprietários.

Integra ainda esse problemático cenário a precarização da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará) – responsável pela assistência técnica de pequenos produtores rurais – e a ausência de uma política do Governo do Estado comprometida com a agricultura camponesa.