Fechar escolas itinerantes é atacar a escola pública
O professor da faculdade de educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, criticou o fechamento de escolas itinerantes do MST, no Rio Grande do Sul. De acordo com o Ministério Público gaúcho, as escolas não funcionavam como deveriam, especialmente no que diz respeito ao conteúdo ensinado. Para Leher, isso é uma censura ao pluralismo na escola pública.
Para o professor, só a perseguição política que o MST está sofrendo no estado explica este fechamento, uma vez que as críticas educacionais não fazem sentido.
“O maior equívoco é não compreenderem que uma escola pública, se ela é de fato do povo, ela tem que ser uma escola que dialogue e interaja com o protagonismo social. A escola pública, para que ela seja pública, ela tem que incluir todas as pessoas. Eles estão impedindo que os cidadãos possam expressar o seu ponto de vista e, sobretudo, possam ser sujeitos e protagonistas da organização do público. Isto é um ato de violência, que tenta silenciar a existência do movimento sem terra”.
Segundo Leher, a educação pública brasileira passa por uma crise por não conseguir interagir com crianças e jovens. E a pedagogia utilizada pelo MST e desenvolvida por Paulo Freire tem o mérito de aproximar a escola da vida real das pessoas.
Um conjunto de educadores elaborou um documento criticando o fechamento das escolas itinerantes, que será entregue ao governo estadual, ao Ministério Público e à Assembléia Legislativa, todos do Rio Grande do Sul. O documento ainda será entregue às entidades acadêmicas e sindicais com intuito de se criar um movimento nacional em defesa das escolas itinerantes.
Contêiner vira sala de aula
Do Pioneiro
Além de rever colegas, o primeiro dia de aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Ismael Chaves Barcellos, em Galópolis, na região de Caxias do Sul (RS) serviu para que cerca de 200 alunos conhecessem as novas salas: contêineres de metal alugados pelo Estado. Parte do colégio foi atingida por um incêndio em setembro e, como não há previsão de quando a reforma será feita, a solução encontrada pelo governo foi o improviso. A escola tem quase 500 alunos.
No dia 3 de setembro um incêndio atingiu uma sala que servia como depósito junto à biblioteca, no primeiro andar, e a escada de madeira que dá acesso ao segundo piso. Como a escada foi interditada, não foi mais possível utilizar o segundo pavimento. Até o final do semestre passado, os estudantes das salas atingidas tiveram aula no antigo cinema de Galópolis. Mas o espaço era inadequado: não havia pátio para brincadeiras e duas turmas dividiam o mesmo ambiente sem paredes que os isolassem.
Ontem, no primeiro dia de aula, oito turmas, quatro pela manhã e outras quatro à tarde, tiveram como novo endereço os contêineres instalados no pátio em frente ao prédio da escola. Pela manhã, os alunos de duas 5ªs uma 4ª e uma 7ª estão no local. Na parte da tarde, os pequenos de duas 3ªs, um 3º ano (equivalente à 2ª série) e um 2º ano (equivalente à 1ª série) são os estudantes das salas de metal. O prédio de um andar formado pelos contêineres tem um corredor que divide duas salas para cada lado. O teto é de zinco. Cada sala, toda revestida com forro PVC, mede 6 x 7 metros, totalizando 42 metros quadrados. Os espaços têm três janelas basculantes de um lado e duas de outro e são iluminados por seis conjuntos de fluorescentes. Cada turma tem entre 20 e 29 alunos. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o custo mensal do aluguel é de R$ 9,5 mil. O contrato para 180 dias totaliza R$ 57 mil.
A preocupação da diretora, Sonia Beatriz Sbersi, é com dias de sol, que trarão muito calor às salas metálicas. Dias de chuvas forte também devem causar barulho que atrapalhará as aulas. “Fechei a porta no começo da aula, mas não deu para ficar fechada – diz a professora Lucimar Albeche.”
A professora Vainer Formolo, 57, dá aula para 29 estudantes em uma das salas-contêineres. “A vantagem é que isola a acústica. Mas é muito abafado.”