Construindo a escola da classe trabalhadora

O papel da escola e do educador no processo de transformação social foi o tema do segundo dia de debate do Encontro Estadual dos Educadores e das Educadoras da Reforma Agrária, que acontece desde quarta-feira (22/4), na cidade gaúcha de Santa Maria. Para o professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luiz Carlos Freitas, é necessário que os professores, além de educarem, sejam também lutadores e construtores da nova sociedade. “Somente assim conseguirão formar os filhos da classe trabalhadora em construtores do amanhã”, diz.

Freitas avaliou que a escola atual, formada a partir dos valores e dos objetivos da burguesia, se estrutura em duas lógicas: a da exclusão e a da submissão. A primeira consiste em reforçar, via educação, a exclusão que existe no sistema capitalista. Os jovens pobres já chegam na escola com
uma bagagem cultural e intelectual diferente dos jovens mais ricos – fator que, submetido a um tempo único de aprendizagem, acaba resultando no desempenho também diferenciado. “Por isso que nas avaliações do governo, que levam em consideração o desempenho final do estudante, o ensino privado aparece como o que educa melhor. Ensinar quem já sabe é mamata. É preciso levar em conta o processo de aprendizagem”, defende.

O professor critica os reforços, ciclos e demais medidas que chamou de “pegadinha” da escola capitalista. “Reforçar ou transformar em ciclo um processo de educação que não funciona é ‘mais do mesmo’. Apenas serve para que o filho do trabalhador se canse da escola; veja que a escola não é para ele, que o seu negócio é trabalhar e acumular riqueza para o sistema. Aos que resisitirem em estudar e tentarem chegar à universidade, o sistema capitalista oferece as escolas técnicas”, argumenta.

Submissão e a escola libertadora

A segunda lógica da escola capitalista é a da submissão, empregada quando a exclusão não foi suficiente para educar o jovem pobre para o sistema capitalista. A saída é construir uma nova teoria pedagógica a partir dos objetivos e da necessidade da classe trabalhadora.

Para isso, explicou o professor Luiz Carlos Freitas, é necessário que o educador quebre o isolamento da escola em relação à vida e ao cotidiano do educando, promova o acesso ao bom conhecimento – que é negado pela escola capitalista -, ensine a auto-organização no coletivo e se qualifique teoricamente.

Outro item fundamental, explicou Freitas, é a relação “professor-aluno”. “Quando olharem os seus alunos, olhem como quem irá encabeçar a mudança na estrutura social. E não como ‘coitadinhos’ ou ‘indisciplinados’. Se essa questão não fosse importante, os governos não estariam criando turmas com 40 estudantes, o que dificulta o trabalho do professor”, argumentou.