10 de setembro: Em memória de camponês, a luta continua!
Nesta quinta-feira (10/9), a Via Campesina celebra o dia internacional das lutas camponesas contra a Organização Mundial do Comércio (OMC). A cada ano, por ocasião desta data, é lembrado o 10 de setembro de 2003 e a nossa mobilização contra a OMC em Cancún.
Para as camponesas e camponeses do mundo, a luta contra a OMC é uma luta pela vida. Com efeito, quanto mais avança a sanha da liberalização, maior é o número de camponeses que desaparecem. Em 2003, os camponeses coreanos faziam parte daquelas pessoas sobre quem as políticas neoliberais batiam mais duramente. Sob a pressão
da forte concorrência das importações a baixos preços, muitos produtores se viram na impossibilidade de vender suas próprias colheitas. Lee Kyung Hae fazia parte destes camponeses a que o comércio internacional nega o direito de viver dignamente de seu ofício. Em Cancún, Lee escalou a grade em frente ao prédio da OMC, com um
cartaz em que estava escrito : “A OMC mata os camponeses”. Alguns instantes depois, vimos sangue que brotava de seu peito. Lee se sacrificou para lembrar aos grandes que decidem sobre o planeta suas responsabilidades frente ao desaparecimento das economias camponesas no mundo.
Seis anos depois, apesar de sua morte, nada mudou.
Em 2009, os camponeses coreanos vivem com pavor da abertura programada do mercado de arroz e a queda do mercado deste cereal. Este ano, com a ocasião da comemoração do 10 de setembro, e em memória de Lee, o
campesinato coreano se mobilizará massivamente com o slogan : “Não à OMC, preservemos o preço do arroz! ”
Preservar um preço justo é extremamente difícil, já que cada vez mais as multinacionais controlam o conjunto da cadeia alimentar, da produção até a comercialização. Donas das reservas mundiais, especulam sobre os preços dos produtos agrícolas. Os preços disparam em seu benefício, em detrimento dos consumidores mais pobres, novas vítimas das políticas neoliberais da OMC, que favorecem as multinacionais. Os camponeses se suicidam e as pessoas morrem de fome já que não podem comprar mais os alimentos. As conseqüências do livre comércio praticado pela OMC e pelos acordos bilaterais são completamente intoleráveis!!
A isto se somam os impactos ecológicos da liberalização. Quanto mais sejam mercantilizadas, liberalizadas e comercializadas a natureza, a agricultura e a alimentação, nos quatro pontos cardeais do planeta, maiores serão as emissões de gás com efeito estufa. Uma instituição como a OMC assim como os acordos bilaterais de livre comércio são os verdadeiros perigos para a humanidade e para o planeta.
Este ano, para A Via Campesina, a comemoração da memória de Lee começou desde 3 de setembro com o encontro organizado frente à iniciativa do governo da Índia, que pretende relançar o ciclo de Doha. Mais de 50 mil manifestantes foram para as ruas de Nova Delhi. Reforçados com esta mobilização, manteremos este espírito de luta nos meses por vir.
Fazemos um chamado a todas as pessoas que nos apóiam para que nos juntemos e organizemos ações que denunciem a brutalidade do controle da economia levada a cabo pelas multinacionais. Haverá um bom número de ocasiões nos seguintes meses para exigir por parte de nossos governos compromissos mais concretos a favor da
soberania alimentar.
– No próximo dia 16 de outubro, A Via Campesina vai participar e organizar ações contra a multinacional Monsanto que continua monopolizando as terras e as sementes ,que são patrimônio da humanidade (para mais informação ver: http://www.[combat]-monsanto.co.uk/). No México – berço de milhares de variedades de milho, e onde depois que
março de 2008, uma lei autoriza o cultivo de milho transgênico – serão realizadas ações em todo o país e será organizado um fórum internacional. Não hesite em comunicar-nos anteriormente qualquer projeto de ação contra Monsanto a : viacampesina@ viacampesina.org , de maneira que possamos fazer eco de suas iniciativas.
– De 16 a 18 de novembro, a Via Campesina estará presente com uma grande delegação na Cúpula Mundial da FAO sobre a Segurança Alimentar em Roma. Esta cúpula de chefes de Estado se revela de uma importância crucial, já que adotará muito provavelmente as regras de funcionamento da nova ordem mundial frente às questões relativas à agricultura e à alimentação. Antes da Cúpula, de 13 a 17 de novembro, o Comitê Internacional de Planejamento pela Soberania Alimentar (CIP) organizará um Fórum Paralelo para as Organizações da Sociedade Civil. Este Fórum contará com espaços específicos para as mulheres, os jovens e os povos autóctones, com o fim de debater as diferentes estratégias relativas à soberania alimentar. Este fórum vai terminar um dia antes do fim da Cúpula, a fim que as soluções propostas pela sociedade civil para sair da crise sejam apresentadas para os chefes de Estado. (Para maior informação sobre o Fórum paralelo : foodsovforum2009 @ gmail.com
– De 30 de novembro a 2 de dezembro, vai acontecer em Genebra a Sétima Conferência Ministerial da OMC. A Via Campesina contou com uma presença forte e determinada em Seattle, Cancún e Hong Kong. Este ano estaremos também presentes em Genebra. Certamente, dada a debilidade atual da OMC, dificilmente a 7ª Conferência vai ter
avanços determinantes. Esta conferência foi apresentada oficialmente como um encontro de avaliação geral do sistema comercial multilateral e não como uma sessão de negociação. Mas, ao tempo que se fala disto, o G20, a Índia e o diretor da OMC multiplicam todas as iniciativas possíveis de encontros para tratar de alcançar com êxito em 2010 um ciclo da Rodada de Doha, agora agonizante. Ao longo dos meses por vir e até a conferência em finais de novembro, as
organizações camponesas da Via Campesina vão a manter a pressão sobre seus governos. Na Índia, por exemplo, depois de a reunião de Nova Délhi e das declarações do ministro indiano, o trabalho de mobilização contra a OMC e os acordos bilaterais de livre comércio prosseguem ao longo e largo do país. Nos Estados Unidos da mesma forma, as organizações da Via Campesina da América do Norte preparam ações contra a reunião do G20, prevista em Pittsburgh, de 23 a 25 de setembro próximos.
– De 7 a 18 de dezembro será realizado em Copenhague a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15). Com o objetivo de vincular Genebra a Copenhague, a rede “Climate Justice Action”, sob o apoio por sua vez de numerosas redes, organiza uma caravana na qual participará a Via Campesina. Por enquanto estão previstas duas
rotas na França, Bélgica e Alemanha. Podem apoiar esta iniciativa participando da recepção dos diferentes períodos . Em Copenhague, a Via Campesina participará com todos os outros movimentos sociais na grande marcha programada para o dia 12 de dezembro.
Organizaremos ações camponesas no dia 13 de dezembro e participaremos também na jornada especial de ações sobre a agricultura, prevista para o dia 15 de dezembro. Também vamos realizar algumas oficinas sobre soberania alimentar e vamos organizar, junto com a Marcha Mundial das Mulheres, Amigos da Terra e a Global Forest Coalition, um fórum.
Qualquer que seja a ocasião, junte-se a nossas mobilizações!
Comunique suas ações e envie fotos e vídeos para: [email protected].
Todas e todos juntos, globalizemos a luta, globalizemos a esperança!
A Via Campesina