Romaria da terra celebra diversidade de alimentos
Da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
“Pão nosso de cada dia”. Foi com esta frase que o Padre José Natalício da Silva, ou Padre Natalício, como prefere ser chamado, enfatizou a importância da 24ª Romaria da Terra do Paraná que ocorre no próximo dia 11, em Marilândia do Sul, município sede da paróquia onde atua. Além de valorizar os trabalhadores e trabalhadoras do campo, para Padre Natalício, a romaria significa a união e o fortalecimento da palavra de Deus.
Conforme o pároco, três razões foram essenciais para que ele se engajasse nesta luta. “A primeira delas é que sou de origem camponesa, trabalhei na roça assim como estes homens e mulheres. Depois me preocupo com o alimento que consumo, afinal a comida num vem do asfalto, mas sim da terra. E a terceira é a solidariedade que sinto pelos trabalhadores, pois conheço as injustiças que sofrem”, argumentou.
Padre Natalício informou que será uma grande festa e acontecerá com muita alegria. Já no dia 4, será realizada uma missa de abertura, a partir das 9h, no estádio municipal. A celebração marcará o inicio da semana que antecede a romaria, quando dezenas de pessoas já estarão na cidade engajadas na organização do evento. “Nesta missa vamos fazer a celebração com base no livro da romaria e depois faremos uma partilha onde cada participante trará um alimento para ser compartilhado.”
Além disso, durante toda a semana, segundo Padre Natalício, várias celebrações serão realizadas em diversos setores para que toda sociedade se mobilize para o dia 11 de outubro.
24 anos de história
O dia era 28 de julho de 1985. A cidade, Guaíra, na região oeste do Estado. A motivação: a barragem de Ilha Grande que ia alagar cerca de 12 mil alqueires de terra. Foi neste contexto que as Romarias da Terra sugiram no Paraná. Em 1985 o tema central trazia a luta dos ilhéus que conquistaram terras para mais de mil famílias. A partir daí o Estado torna-se tradicional nestas celebrações e a cada ano a Romaria da Terra traz um novo tema aliado à realidade da região onde é celebrada.
Conforme o membro da coordenação nacional da CPT, Dirceu Fumagalli, as romarias mostram o que há de mais explícito de conflitos, resistências e denúncias da realidade camponesa. “São situações decorrentes onde a CPT interpreta nos sinais dos tempos”, explica Fumagalli que ainda acrescentou que são espaços onde há a manifestação divina. “Deus caminha junto com o povo.”
As romarias nascem da necessidade de explicitar determinadas situações de injustiças e conflitos sócio-políticos. Além disso, é a manifestação explícita para que o povo perceba que Deus está presente neste processo libertário. “Assim como esteve junto do seu povo no êxodo em busca da terra prometida”, acrescentou Fumagalli.
“Se em 1985 a luta era pelos atingidos da barragem, hoje debatemos a crise da alimentação”
Com o lema “Do ventre da terra o puro alimento. Na mesa de todos o nosso sustento”, a 24ª Romaria da Terra ira denunciar, de acordo com Fumagalli, o atual modelo de agricultura que não prioriza o abastecimento. “O alimento deixou de ser o puro alimento na sua essência e passou a ser mercadoria. A questão não é a segurança alimentar, mas sim que tipo de comida estamos comendo”, alertou.
Fumagalli ainda acrescentou que as romarias são de vital importância, pois, através das místicas, contagiam os romeiros e romeiras de diferentes maneiras. “E isso faz com que ao retornarem para suas comunidades eles continuem celebrando de outras formas.”
A 24ª Romaria da Terra ocorre no próximo dia 11, no município de Marilândia do Sul, região norte do Estado. Outras informações pelo email [email protected] ou pelo telefone: (43) 3347-1175.