Saiba mais sobre os estudos do Núcleo Tramas
Os venenos causam sérios riscos à nossa saúde e ao meio ambiente. Essa é uma constatação de todos os estudos que tem sido feito pelo Núcleo Tramas sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde da população e no meio ambiente no Estado do Ceará.
Muitas doenças estão surgindo ou aumentando como conseqüência do uso de venenos: câncer, alergias, doenças do sistema nervoso, da reprodução, do sistema imunológico.
Os venenos causam sérios riscos à nossa saúde e ao meio ambiente. Essa é uma constatação de todos os estudos que tem sido feito pelo Núcleo Tramas sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde da população e no meio ambiente no Estado do Ceará.
Muitas doenças estão surgindo ou aumentando como conseqüência do uso de venenos: câncer, alergias, doenças do sistema nervoso, da reprodução, do sistema imunológico.
As mulheres e homens trabalhadores de baixa renda, os desempregados, as comunidades tradicionais e os grupos étnicos estão sendo condenados a viver nas áreas mais contaminadas e ingerir os alimentos cheios de agrotóxicos. Essa é uma realidade do Brasil e também no Estado do Ceará.
Contramão da história
O Estado do Ceará é hoje um dos grandes celeiros de produção e industrialização e consumo de agrotóxicos, inclusive de agentes contaminantes totalmente nocivos a saúde humana, animal e vegetal, os quais já foram proibidos em outras regiões do Brasil e de outros países do mundo.
A luta dos ambientalistas e dos movimentos sociais hoje é para denunciar os crimes ambientais e sociais das empresas de agrotóxicos e também a extrema gravidade que vivemos na agricultura com o modelo do agronegócio.
Nossa saúde e nossa soberania alimentar estão ameaçadas pelo uso de venenos. Aqui no Estado existem varias empresas que atuam no setor de produção, de manipulação e utilização de agrotóxicos. Tais como a Del Monte, Fyffes, Syngenta e a NUFARM, antiga AGRIPEC.
Quem é a empresa Nufarm
A Nufarm é uma empresa transnacional, com sede na Austrália, instalada no Brasil, com fábrica no Estado do Ceará, e lidera atualmente o ranking da 8ª maior empresa no volume de vendas de agrotóxico no mundo. A empresa atua em mais de 100 países, com 14 fábricas. A entrada no mercado brasileiro ocorreu com a compra da empresa Agripec e Farmacêutica. Seus produtos químicos destinam-se as culturas de citrus, cana, café, milho, tomate, feijão, soja, algodão, batata e pastagens. Desses, 60 % está destinado ao cultivo de soja.
A Nufarm produz 18 tipos de venenos, sendo que o mais vendido deles é o Glifosato (veneno usado na agricultura para fazer capina química). Estudos comprovam que os efeitos desse produto no organismo humano alteram o feto e o embrião, e contaminam o leite materno.
Além do Glifosato, a empresa manipula contaminantes secundários como o Dimetil disulfeto e o Dimetil Sulfato, este último comprovado como cancerígenos em animais (e ainda em estudo sobre os fatores cancerígenos em humanos). Alem disso provocam efeitos no ar e contaminação das águas, inclusive do subsolo.
Em Novembro de 2009, a Anvisa apreendeu 2,3 milhões de litros de agrotóxicos adulterados da Nufarm Indústria Química e Farmacêutica de Maracanaú. Só as multas da empresa podem chegar a 1 milhão e meio de reais.
Além disso, foram encontradas inúmeras irregularidades na importação, produção e comércio de produtos agrotóxicos, como por exemplo, substancias para reduzir o odor e até mesmo “perfumar” os produtos, como forma de adulterar a fórmula na intenção de disfarçar o mau cheiro. Quatro toneladas do agrotóxico Endossulfan também foram apreendidas porque a embalagem não continha identificações obrigatórias sobre o produto.
Denúncias dos moradores do município de Maracanaú
Os moradores do bairro Novo Maracanaú vem sofrendo com a poluição ambiental causada pela manipulação de produtos da empresa bem como o descaso aos direitos humanos e a perseguição jurídica à entidades e pessoas que fazem estudos sobre a atuação da empresa.
A poluição ambiental causada pelos agentes químicos da Empresa Nufarm, causa gravíssimos problemas à população vizinha, principalmente aos moradores do Conjunto Novo Maracanaú, Coqueiral, Piratininga, Jereissati, DI 2000, Santo Sátiro e Acaracuzinho.
Essas comunidades sofrem constantemente com o odor insuportável e os problemas de saúde como: dor de cabeça, enjôo, alergia na pele, queimação dos olhos e narinas, problemas respiratórios, bronquites, pneumonias, anemias, câncer e leucemia mielóide aguda decorrentes das atividades nocivas da empresa.
Irregularidades da empresa
A partir de solicitação do Ministério Público, a UFC (Universidade Federal do Ceará) realizou um estudo dos impactos da Empresa sobre a saúde dos moradores locais e constatou irregularidades cometidas pela empresa, especialmente no uso de contaminantes como o Glifosato e Dimetil.
O resultado foi alarmante e impedido por pressão da empresa de ser divulgado. A empresa entrou com ação na justiça para proibir a divulgação da pesquisa. Duas pesquisadoras da UFC Raquel Rigotto e Islene Rosa do Núcleo Tramas respondem a processo na justiça por divulgar os dados da pesquisa.
Papel do Estado e do governo
Vários fatores contribuem para a instalação da Empresa Nufarm no Estado do Ceará:
a) A falta de rigoroso cumprimento da legislação ambiental e sanitária, incluindo a fiscalização e das ações das empresas de agrotóxicos e seu uso.
b) a mão- de- obra barata dos trabalhadores das trabalhadoras
c) o financiamento público estadual e federal com incentivos fiscais para a instalação e desenvolvimento das atividades da empresa no nosso Estado.
O governo está usando o dinheiro público para bancar o envenenamento da população pobre.
Diante disso, o mínimo que podemos fazer é nos perguntar qual é o real custo social, ambiental e de saúde desta grande produção ‘aditivada’ com agroquímicos.
Quem arca com as conseqüências e quem realmente paga por isto?
Ofensiva na Chapada do Apodi
A chapada do Apodi está sendo alvo de inúmeros problemas sociais e ambientais trazidos pelo agronegócio através de empresas transnacionais como a Nolem, a Banesa, Del Monte, a Frutacor, a Fyffes e a Syngenta que atuam no grande negócio da fruticultura irrigada.
Esses problemas estão relacionados, sobretudo, com as denúncias de conflitos de terras envolvendo a questão de grilagem de terra pública, o desaparecimento de comunidades e pequenos produtores que perderam suas terras e são obrigados a morarem nas periferias das cidades; o uso abusivo de venenos na produção de frutas gerando a contaminação da água inclusive as subterrâneas; do ar; a degradação do solo, e o aparecimento de doenças causadas pelos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores expostos aos venenos. Alem das denuncias ligadas às condições de trabalho e de salários dos trabalhadores das empresas.
Inúmeros estudos dos impactos sociais, ambientais e na saúde da população têm sido feito por pesquisadores e pesquisadoras do Núcleo Tramas de diferentes instituições públicas de pesquisa preocupadas com o futuro da população e do meio ambiente dessa região. Nos últimos anos, a chapada tem sido palco do conflito social intenso onde de um lado estão as empresas do agronegócio e de outro, as comunidades que tentam resistir a esse modelo devastador.
Nos últimos anos, movimentos Sociais, pesquisadores e ambientalistas realizaram diversas ações de denúncia desse modelo. Em 2007, as mulheres da Via Campesina trancaram a Estrada do Agronegócio para chamar a atenção da sociedade sobre o uso abusivo de venenos nas plantações de melão, abacaxi e melancia feito pela Empresa Del Monte.
Em 2008 os trabalhadores das empresas fizeram uma greve para exigir melhores condições de trabalho, salários e assistência á saúde. Em 2009 foi a vez do Grito dos Excluídos que teve como lema: “Tirem as mãos, a chapada é nosso chão”. A caminhada reuniu mais de 5 mil pessoas nas ruas da cidade de Limoeiro.
Essas mobilizações foram muito importantes, mas não foram suficientes para conter o avanço voraz da ganância dessas empresas. Cada vez mais, elas avançam gerando mais pobreza, mais destruição e violência; contraditoriamente, provocando uma reação da população para se organizar em defesa de seus direitos sociais e ambientais.