“Por uma Revolução Verde sem químicos e transgênicos”

Por Vandana Shiva Física e ambientalista indiana No jornal La Repubblica Pensávamos que o fato de encorajar os agricultores a usar produtos químicos e sementes reprogramadas e a comercialização de sementes criadas em laboratórios trariam a prosperidade ao campo: agricultores prósperos não abraçariam as armas e, portanto, a paz estaria garantia. Foi sobre a base desse raciocínio que Norman Borlaug, o pai da Revolução Verde, recebeu o Nobel da Paz. Mas se a teoria venceu o Nobel, a realidade não trouxe paz.


Por Vandana Shiva
Física e ambientalista indiana
No jornal La Repubblica

Pensávamos que o fato de encorajar os agricultores a usar produtos químicos e sementes reprogramadas e a comercialização de sementes criadas em laboratórios trariam a prosperidade ao campo: agricultores prósperos não abraçariam as armas e, portanto, a paz estaria garantia.

Foi sobre a base desse raciocínio que Norman Borlaug, o pai da Revolução Verde, recebeu o Nobel da Paz. Mas se a teoria venceu o Nobel, a realidade não trouxe paz.

O Punjab, onde a revolução foi aplicada pela primeira vez, na Índia, tornou-se uma região de violências extremas entre o fim dos anos 70 e início dos 80. Em 1984, o Exército indiano invadiu o templo onde Bhinderwala, o líder dos extremistas, havia se refugiado.

No inverno daquele ano, Indira Gandhi foi assassinada, e esse homicídio desencadeou o assassinato de milhares de sikhs inocentes. A espiral de violência foi desencadeada pelas frustrações criadas pela Revolução Verde. Que era baseada em métodos de cultivo com forte intensidade de produtos químicos, de capital, de uso hídrico e energético, com a destruição dos terrenos, da água e da biodiversidade do Punjab.

No início, os subsídios públicos haviam amortizado o impacto, mas a necessidade de outros produtos químicos e a redução dos subsídios produziram uma economia negativa. E o agricultor, que gastava mais e ganhava menos, se deu conta de que não tinha nenhuma voz. A Revolução Verde não era verde nem por causa da sustentabilidade ecológica, nem por causa da paz. Tornou-se vermelho sangue, com mais de 30 mil de mortos no Punjab.

A violência dos anos 70 e 80, dirigida para o exterior, se transformou em uma violência contra si mesmos, que encontrou expressão na onda de suicídios entre os agricultores dos anos 90, quando veio a violência da globalização e da segunda Revolução Verde, com as sementes geneticamente modificadas da Bt Cotton.

De 1997 até hoje, são 200 mil os agricultores que se suicidaram na Índia como resultado de uma agricultura com forte intensidade de capital e fatores produtivos externos, uma agricultura que cria endividamento, filha das duas revoluções verdes.

O que precisamos é de uma Revolução Verde autêntica. É o que busco construir desde os anos 80 com o projeto Navdanya. Os cultivos biológicos que respeitam a biodiversidade reduzem os custos e aumentam a produção, trabalhando de acordo e não em contraposição aos processos ecológicos naturais.

Uma agricultura que faz as pazes com a natureza produz também uma maior quantidade de alimentos e nutrientes por hectare. É hora de acabar com o mito dos produtos químicos e da engenharia genética. Os produtos químicos e os transgênicos produzem mais elementos tóxicos, e não mais alimento e mais nutrientes. Não há lugar para eles em uma autêntica Revolução Verde.

(tradução – Moisés Sbardelotto, no IHU On-Line)