Trágedias e o novo código
Por João Pedro Stedile
Coordenação do MST
Em O Dia/ Rio de Janeiro
Estamos assistindo a mais uma tragédia ambiental no Brasil. Agora, são nossos irmãos nordestinos da Zona da Mata, em Alagoas e Pernambuco, que pagam um alto preço. Treze municípios ficaram arrasados.
Pessoas perderam tudo: casa, roupas, documentos. Centenas de mortos e desaparecidos e milhares de famílias desabrigadas. A maior parte da mídia priorizou a cobertura da Copa. Outros ensaiaram campanhas de solidariedade, necessárias e urgentes, mas paliativas.
Devemos usar tragédias para refletir sobre suas causas. Isso ninguém quer. Por que as pessoas tiveram que construir as casas na beira do rio? Por que ninguém respeitou o plantio de árvores, em apenas 30 metros nas margens dos rios? Por que as chuvas se tornaram mais torrenciais e os rios mais violentos?
A resposta está na forma como se implantou no Nordeste a grande propriedade monocultora de cana. Usineiros não respeitam nada. Plantam cana até na margem do rio. Expulsam dos engenhos os moradores, que vão se amontoando nas cidades e se obrigam a morar junto ao rio, porque os terrenos mais altos são dos usineiros, que moram nas capitais do País.
Essa tragédia tem tudo a ver com o debate do Código Florestal. A lei atual é razoável, pode ser aperfeiçoada, mas é sistematicamente desrespeitada pelos latifundiários.
Pode ficar pior: um deputado resolveu agradar aos latifundiários, como moderno capitão-do-mato, e apresentou projeto de mudanças no Código Florestal que libera ainda mais as agressões ao ambiente.
Certamente, virão mais tragédias. Os atingidos serão sempre os mais pobres. Os ricos continuarão protegidos pelo capital que acumulam agredindo a natureza e pela mão benevolente do Estado. Agora em lei. Haja inferno, para uma classe dominante tão irresponsável.