Uma estrela vermelha brilha na Zona da Mata mineira

Por Frei Gilvander Luís Moreira Fizemos ao lado de dezenas de participantes das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e agentes da Comissão Pastoral da Terra uma visita a um acampamento do MST, no município de Goianá, Zona da Mata de Minas Gerais. São 102 famílias Sem Terra registradas, em 70 barracos de lona preta. A ocupação da Fazenda Fortaleza de Santanna aconteceu dia 25 de março de 2010. As famílias acampadas resolveram batizar o acampamento com o nome de Dênis Gonçalves, que foi uma criança sem-terrinha do assentamento Olga Benário, em Visconde do Rio Branco.


Por Frei Gilvander Luís Moreira

Fizemos ao lado de dezenas de participantes das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e agentes da Comissão Pastoral da Terra uma visita a um acampamento do MST, no município de Goianá, Zona da Mata de Minas Gerais.

São 102 famílias Sem Terra registradas, em 70 barracos de lona preta. A ocupação da Fazenda Fortaleza de Santanna aconteceu dia 25 de março de 2010. As famílias acampadas resolveram batizar o acampamento com o nome de Dênis Gonçalves, que foi uma criança sem-terrinha do assentamento Olga Benário, em Visconde do Rio Branco.

Após ouvir os apelos do pai para abraçar a luta no assentamento e participar ativamente da ciranda infantil, um dia ao ir à cidade Dênis morreu em um acidente automobilístico.

O assentamento Dênis Gonçalves é sinal de que Dênis está ressuscitado, presente na luta da família Sem Terra.

A Fazenda Fortaleza de Santanna, latifúndio ocupado, tem 4.865 hectares e é improdutiva, segundo laudo do Incra, de novembro de 2009.

Tem apenas 1.400 cabeças de gado em uma imensa monocultura do capim. Uma acampada diz: “Sem reforma agrária querem que o povo aprenda a refogar capim e comer.”

A sede da fazenda foi destruída em um incêndio em 2004. Tratava-se de um monumental patrimônio histórico cultural. Foi criminoso o incêndio? Foi para evitar o tombamento da sede da Fazenda?

A fazenda já foi da baronesa de Santanna, mãe de Mariano Procópio, o construtor da estrada de Juiz de Fora a Rio Novo, município vizinho.

Hoje, o empresário Fábio Tostes e herdeiros, família tradicional da região de Juiz de Fora, são os proprietários da fazenda. Moram no Rio de Janeiro. Dizem que há na fazenda 28 famílias agregadas, entre os quais há trabalhadores desrespeitados em seus direitos trabalhistas.

A fazenda já foi multada pelo Ministério do Trabalho por não pagar insalubridade aos vaqueiros que trabalham nos currais.

O juiz da Vara Agrária não concedeu liminar de reintegração de posse aos pretensos proprietários, mas restringiu os acampados em uma pequeníssima faixa de terra, proibindo os Sem Terra de gozar a posse da fazenda e plantar suas lavouras.

Assim, muitos são obrigados a deixar o acampamento e trabalhar como diaristas em fazendas vizinhas ou nas cidades próximas.

Houve patrões, como os da Fazenda HD, que demitiram trabalhadores, porque estavam participando do Acampamento Dênis Gonçalves.

Os proprietários da Fazenda Fortaleza de Santanna mandaram cortar a energia que uma família de agregados tinha cedido ao acampamento.

Assim, várias pessoas que tinham que fazer inalação tiveram que abandonar o acampamento e voltar para a periferia da cidade.

Um tailandês, o sr. Harém, esteve durante várias semanas no acampamento e, como expressão de solidariedade internacional, ajudou a construir um barraco comunitário-cultural.

No acampamento há uma grande horta comunitária que produz para o consumo da família Sem Terra e a sobra é vendida na cidade de Goianá.

Há também várias hortas em volta dos barracos de lona preta, inclusive com ervas medicinais.

Um acampado desabafou:

– Me juntei ao MST, porque me cansei de trabalhar das três horas da madrugada até às seis da tarde, de segunda a segunda, sem descanso, ganhando só um salário mínimo. Meu irmão e eu tirávamos 500 litros de leite de manhã e 350 litros, à tarde. Basta de escravidão! Agora, luto por um pedaço de terra para fazer a minha hora e não mais fazer hora para o patrão.

Na celebração ecumênica que fizemos no acampamento, um apoiador recordou Gabriel O Pensador, que diz: “Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém. Mas quem come e não trabalha está comendo o pão de alguém.”

Abaixo assista reportagem sobre o Acampamento Dênis Gonçalves, em duas partes: