Via Campesina denuncia impactos do agronegócio e condena economia verde
Da Comunicação da Via Campesina
Durante a coletiva de imprensa das organizações da sociedade civil sobre agricultura, concedida nesta quinta (21/6) no espaço oficial da Rio+20, os representantes da Via Campesina Internacional Chavannes Jean-Baptiste, do Mouvement des Paysans de Papaye (MPP), do Haiti, e a canadense Nettie Wiebe, da National Farmers Union, apresentaram um panorama da leitura que a organização faz do conceito de economia verde e do quadro atual de desenvolvimento da agricultura em todo o mundo.
Da Comunicação da Via Campesina
Durante a coletiva de imprensa das organizações da sociedade civil sobre agricultura, concedida nesta quinta (21/6) no espaço oficial da Rio+20, os representantes da Via Campesina Internacional Chavannes Jean-Baptiste, do Mouvement des Paysans de Papaye (MPP), do Haiti, e a canadense Nettie Wiebe, da National Farmers Union, apresentaram um panorama da leitura que a organização faz do conceito de economia verde e do quadro atual de desenvolvimento da agricultura em todo o mundo.
Jean-Baptiste apontou que o processo de usurpação das terras no país da América Central tem crescido com o aumento da demanda por agrocombustíveis. “O Haiti é muito pequeno, temos apenas 27 mil quilômetros de extensão de terras, e boa parte delas têm sido concedidas pelo governo a transnacionais para produzir para exportação. As pessoas estão saindo de suas terras. O governo pediu às prefeituras que aprovem leis que permitam a instalação dessas empresas para produzir commodities para agrocombustíveis. Nós produzimos o alimento do país, promovemos soberania alimentar, a agroecologia e a reforma agrária. Além disso, a agricultura industrial é responsável por 50% do aquecimento global. Estamos aqui para dizer não ao capitalismo verde”, disse.
Ele lembrou, ainda, que os camponeses organizados têm conseguido evitar o avanço da ação da Monsanto no país. Depois do terremoto de 2010, a empresa doou ao governo haitiano sementes híbridas sob o pretexto de ajudar os camponeses a recuperar sua produção.
Em pouco tempo, o MPP conseguiu levar a cabo uma campanha nacional contra as doações que acabou com a atuação da empresa no país. “Sabemos que a Monsanto vende sementes modificadas em todo o mundo e que seu objetivo é ganhar mercado em nosso país, destruindo nossas sementes, nossa agricultura e acabando com nossa independência. Então fizemos grandes mobilizações com mais de 20 mil pessoas contra a empresa e o governo americano, e a Monsanto fechou suas lojas. Atualmente o projeto está suspenso, mas continuamos mobilizados e atentos”.
Nettie Wiebe rechaçou o modelo de economia verde apresentado no texto da Rio+20 sobre agricultura. “Vemos o texto como a legitimação do saque de terras, sementes e da água. Não achamos que as soluções técnicas oferecidas irão de fato erradicar a pobreza e a fome e tampouco respaldar os pequenos agricultores. Exemplo disso é o relatório especial das Nações Unidas sobre alimentação no Canadá, que mostrou que estamos indo mal em termos de segurança alimentar. Há uma crescente concentração de terras nas mãos de poucos fazendeiros em meu país. As soluções que já estão nas mãos dos pequenos agricultores, só necessitamos de políticas que permitam o controle das sementes e terras pelos pequenos. Essa é a chave para garantir a soberania alimentar”, defendeu.
A dirigente da Via Campesina exemplificou a forma com que o conceito de economia verde vem sendo aplicado nas áreas rurais de todo o mundo com o caso de uma província da Indonésia que, desde 2008, tem sua área rural dedicada ao plantio de árvores para compensação de carbono. “A população local foi expulsa de suas terras. Em todos os lugares do mundo a economia verde funciona assim, e nós a rejeitamos”.