Integrantes de movimentos sociais iniciam curso técnico em meio ambiente


Por Talita Rodrigues
Da página da EPSJV / Fio Cruz


Por Talita Rodrigues
Da página da EPSJV / Fio Cruz

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) iniciou neste mês o Curso Técnico em Meio Ambiente para cem integrantes de movimentos sociais de diversos estados do Brasil. A iniciativa tem como objetivo formar trabalhadores rurais para a identificação e enfrentamento dos principais determinantes sociais da saúde das populações do campo, fortalecendo a luta dos movimentos sociais do campo na construção de ambientes saudáveis e sustentáveis, com ênfase nos problemas de saúde ambiental de seus territórios. Os educandos são integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

O curso terá a duração de um ano, com carga horária de 960 horas, divididas em tempo escola (aulas presenciais), tempo comunidade (trabalho de campo para estudo e pesquisa nos territórios de origem dos educandos) e estágio supervisionado. “Assim como aconteceu com outros cursos da EPSJV voltados para integrantes de movimentos sociais, a divisão do tempo segue a Pedagogia da Alternância, que garante a participação dos assentados da Reforma Agrária, bem como a construção de processos de formação em que a teoria se constrói como elaboração do real, da materialidade das relações sociais e da historicidade dos conflitos da sua comunidade e do mundo”, explica o professor-pesquisador da EPSJV, André Búrigo, que coordena o curso juntamente com Alexandre Pessoa.

A construção do curso pela EPSJV foi feita em cooperação técnica com o MST, o Núcleo TRAMAS (Trabalho, Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade) da Universidade Federal do Ceará (UFC) a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e o Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro).

O curso está estruturado em três eixos transversais – Ontem e hoje, nossa terra: o território na América Latina; Das ameaças à promoção da vida; e Produzindo e sistematizando conhecimento, saberes e práticas para a promoção de territórios saudáveis. Os eixos são compostos por quatro unidades de aprendizagem: Planejamento, Produção de Ambientes Saudáveis; Política, Trabalho, Ciência e Cultura; e Trabalho de Campo e estágio.

Durante as aulas, serão abordados temas como Soberania Alimentar, Política Ambiental, Saneamento Ecológico, Saúde do Campo, Sistema Único de Saúde (SUS), Agroecologia e Habitação Saudável, entre outros assuntos. “As práticas de manejo das águas, dos resíduos e de energia na perspectiva do saneamento ecológico contarão com protótipos de tecnologias sociais desenvolvidas pelo Canteiro Experimental de Tecnologia Social em Saneamento e Saúde (Cetesa) e pelos movimentos sociais, a partir dos conhecimentos e técnicas advindas dos territórios, além de permitir a análise crítica das políticas públicas, seu alcance e limitações frente ao desafio da promoção da saúde, a exemplo das cisternas de aproveitamento das águas pluviais”, explica o professor-pesquisadora Alexandre Pessoa.

Além das aulas teóricas, os educandos também participarão de práticas de campo, visitas técnicas e oficinas. “O trabalho de campo será uma atividade didático-pedagógica que irá relacionar os conteúdos dos módulos com as condições de vida e situação de saúde da população dos assentamentos e acampamentos rurais. Moradores dos acampamentos irão acompanhar o trabalho de campo, formando uma equipe de pesquisa no território”, explica André, acrescentando que o trabalho de campo deve resultar na elaboração do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC), que terá uma proposta de intervenção sobre os problemas de saúde ambiental identificados nos territórios onde os educandos vivem.

As aulas serão realizadas em centros de formação em áreas rurais. No Ceará, o curso será na Escola de Ensino Médio João dos Santos Oliveira, no Assentamento 25 de Maio, em Madalena (CE). No Paraná, as aulas serão no Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro), no Assentamento Ireno Alves, em Rio Bonito do Iguaçu (PR). Será utilizado ainda o laboratório da Universidade Federal da Fronteira Sul, no campus de Laranjeiras do Sul (PR).