Acampamento da Cambahyba já tem nome: Luís Maranhão
Da Página do MST
Ocupada na madrugada do dia 2 de novembro, a área da usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes (RJ) foi batizada no dia 9 de novembro. O homenageado foi Luís Maranhão, militante do PCB, e uma das dez pessoas incineradas nos fornos da usina durante a ditadura civil-militar.
Da Página do MST
Ocupada na madrugada do dia 2 de novembro, a área da usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes (RJ) foi batizada no dia 9 de novembro. O homenageado foi Luís Maranhão, militante do PCB, e uma das dez pessoas incineradas nos fornos da usina durante a ditadura civil-militar.
Passadas 3 semanas da ocupação, o acampamento Luís Maranhão vai se estruturando a cada dia. Há cerca de 134 famílias cadastradas, porém novas famílias têm chegado todos os dias. As famílias estão divididas em 10 núcleos de base, que é a forma organizativa do MST para que as famílias possam coletivamente participar das decisões do acampamento. Em cada núcleo foi tirada uma coordenação de 2 pessoas composta por um homem e uma mulher.
O acampamento tem recebido diversas doações de outros acampamentos e assentamentos, e também de moradores da região. O assentamento Oziel Alves doou grande quantidade de alimentos, assim como o Sindipetro-NF. O item mais necessitado no momento é a lona para cobertura dos barracos. As fortes chuvas dos últimos dias destruíram muitos barracos.
Quem foi Luís Maranhão?
O homenageado do acampamento nasceu em 25 de janeiro de 1921 em Natal/RN, filho de Luís Inácio Maranhão e Maria Salmé Carvalho Maranhão, casado com Odete Roselli Garcia.
Advogado e professor do Atheneu Norteriograndense, da Fundação José Augusto e da Universidade Federal do RN. Jornalista, colaborou com diversos jornais do Estado, particularmente com o Diário de Natal. Escreveu vários artigos sobre questões candentes da realidade para a Revista da Civilização Brasileira. Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido eleito para o seu Comitê Central no VI Congresso do partido em 1967.
Foi preso em 1952 pela Aeronáutica em Parnamirim, brutalmente torturado, constituindo essa saga vivida por Luís, um capítulo do livro “A História Militar do Brasil”, de Nélson Werneck Sodré. Em 1958 foi eleito Deputado Estadual, pela legenda do Partido Trabalhista Nacional (PTN), desempenhando o mandato até 1962. No início de 1964, a convite de Fidel Castro visita Cuba. Com o golpe militar de abril do mesmo ano, Luís é preso e, novamente, submetido à tortura.
Permanece preso até fins de 1964. Libertado, imediatamente passa à clandestinidade, no Rio de Janeiro. Durante o período de vida clandestina, Luís Maranhão Filho, atua em diversas missões e comissões partidárias. Era importante elo de ligação nos contatos do partido com a Igreja Católica e políticos de oposição legal.
Circustâncias e Morte
Luís Maranhão foi preso no dia 3 de abril de 1974 numa praça em São Paulo, capital. Pessoas que presenciaram a cena informam que ele foi algemado e conduzido num transporte de presos pelos agentes do DOI-CODI do II Exército. A ditadura militar jamais reconheceu a prisão do militante político; foi incluído no rol dos desaparecidos. Sua esposa denunciou, através do Secretário Geral do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), deputado Thales Ramalho, que Luís estava sendo torturado em São Paulo pelo famigerado assassino Sergio Fleury.
Em 15 de maio de 1974, o vice-líder da ARENA, Deputado Garcia Neto prometia “que o governo tomaria providências para elucidar os sequestros de presos políticos, inclusive de Luís Maranhão Filho”. Providências nunca encaminhadas. Em 08 de abril de 1987, o ex-médico e torturador Amilcar Lobo revelou, em entrevista à Revista Isto É, que viu Luís sendo torturado no DOI-CODI do I Exército no Rio de Janeiro. Em 1993 o ex-agente do DOI-CODI, Marival Chaves, em entrevista à Revista Veja, disse que Luís fora trucidado pelos órgãos de segurança da ditadura militar; seu corpo não foi localizado.
Recentemente Cláudio Guerra revelou em seu livro “Memória de uma guerra suja” que Luís Maranhão teve seu corpo incinerado nos fornos da Usina Cambayba.