Mobilizações em toda Alagoas marcam Dia Estadual de Luta do MST
Por Gustavo Marinho e Rafael Soriano
Da Página do MST
Na manhã desta sexta-feira (29), centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais bloqueiam a BR 316 em Atalaia por oito horas.
O protesto visa denunciar os oito anos de impunidade do assassinato do Sem Terra Jaelson Melquíades, brutalmente executado com cinco tiros à mando dos latifundiários da região, em 2005.
Com isso, as famílias assentadas e acampadas do Agreste e da Zona da Mata alagoana relembram o dia 29 de novembro, data do assassinato do dirigente do MST, e denunciam a truculência dos grandes proprietários das terras da região e a ineficácia e impunidade do Poder Judiciário.
Desde a morte de Jaelson Melquíades, os Sem Terra incorporaram essa data no calendário de luta dos camponeses de Alagoas, tornando-o o Dia Estadual de Luta contra a Violência e a Impunidade no Campo e na Cidade.
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Com isso, todos os anos nesse dia, o MST realiza ações em todo estado em memória de Jaelson e de outros Sem Terra tombados na luta pela Reforma Agrária que seguem com seus casos impunes, como Chico do Sindicato (assassinado em 1995), José Elenilson (em 2000) e Luciano Alves, o Grilo (em 2003).
Para Maurício Silva, da Direção Estadual do MST, o dia 29 de novembro é um grito de resistência dos agricultores de Alagoas. “Achavam que iam enfraquecer nossa luta assassinando nossos companheiros, mas estamos mostrando o contrário: continuamos mobilizados e levando adiante o sonho dos que covardemente foram mortos. Jaelson vive em cada um e em cada uma que luta por uma vida digna”, afirmou.
Na mesma região onde Jaelson Melquíades foi assassinado, centenas de famílias Sem Terra vivem acampadas sob constante ameaça de despejo.
A Fazenda São Sebastião, por exemplo, onde está o acampamento São José, é parte da massa falida da Usina Ouricuri. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais acampadas na área produzem mandioca, milho, feijão e outras culturas, além da criação de animais e da Escola Itinerante Rosa Luxemburgo, que atende crianças, jovens e adultos acampados.
Da Mata ao Sertão: trabalhadores mobilizados
Desde quinta-feira (28/11), trabalhadores rurais de diversas regiões do semi-árido ocupam uma área próxima ao Canal do Sertão, reivindicando a destinação de 2000 hectares de terra para assentamentos de Reforma Agrária.
Nesta sexta-feira (29/11), as famílias participam de audiência pública na Câmara de Vereadores de Delmiro Gouveia, para debater o uso das águas do Canal.
A audiência foi convocada por iniciativa do vereador Edvaldo Nascimento (PCdoB), com intuito de questionar a destinação do Canal a grandes projetos em detrimento dos pequenos agricultores e populações tradicionais.
“Temos aqui o Canal passando dentro de assentamentos e as famílias sem acesso. A sociedade está muito distante, não tem sido convocada para debater”, analisa o vereador Edvaldo.
A audiência acontece às 9h no plenário da Câmara de Vereadores de Delmiro Gouveia. Para Débora Nunes, da Coordenação Nacional do MST, “não há de fato debate aberto com a população, ao contrário, há perspectivas de privatização do uso da água”.
Debora se refere não somente à gestão das águas, mas exemplifica a pretensão de uso dos recursos hídricos por grandes projetos.
“Um dos projetos a serem beneficiados prioritariamente é a mineração no Agreste. A empresa de capital canadense, Vale Verde, terá todo suporte para extração de minérios de nosso solo. Todos sabemos que para a mineração é necessário grandes quantidades de água. E essa água sairá do Canal do Sertão”, afirma a coordenadora do Movimento.
O novo acampamento na região, às margens do Canal do Sertão, simboliza a reivindicação dos trabalhadores Sem Terra sobre o destino das águas do empreendimento.
As famílias exigem a desapropriação das terras e da água as populações mais pobres do campo, como os Sem Terra e indígenas, e para que esses recursos naturais sejam utilizados para a produção de alimentos saudáveis a população do campo e da cidade.