Mulheres camponesas debatem autonomia no 12º Acampamento na BA
Por Coletivo de Comunicação do 12º Acampamento
Da Página do MST
Fotos: Klívia Gadêlha
Sob o compasso da mística e da força do campo e das florestas, cerca de 500 mulheres deram início ao 12º Acampamento das Mulheres Trabalhadoras Rurais da Bahia, no Parque de Exposição em Salvador, nesta segunda-feira (17).
Organizadas no MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA) e Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), o encontro visa debater as pautas e os desafios das trabalhadoras rurais.
Na mesa de saudação, composta por representantes dos movimentos sociais de luta pela terra – além da presença da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), da Marcha Mundial das Mulheres, Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e da Oposição Operária -, as mulheres colocaram as expectativas em relação ao encontro, ressaltando a luta e as conquistas fruto da auto-organização.
Debates
Elisabeth Rocha, do MST, e Saiane Moreira, do MPA, iniciaram os debates trazendo os avanços e desafios em torno da luta das mulheres.
As militantes fizeram uma análise sobre a vida das mulheres camponesas nos últimos anos, ressaltando os desafios do enfrentamento ao agronegócio.
Nessa perspectiva, refletiram sobre os impactos do modelo destrutivo do agronegócio, como a monocultura em grandes extensões de terra, uso de agrotóxico, controle e transgenia das sementes.
A violência direta do agronegócio sobre a mulher também foi ressaltada, ao identificarem que esse modelo estimula a divisão sexual do trabalho, a precariedade, o envenenamento do próprio corpo, assim como da terra e das águas.
Segundo elas, estes aspectos atingem diretamente as mulheres, já que são 70% da população pobre em todo mundo.
Na Bahia existem aproximadamente 4 milhões de pessoas vivendo no campo e nas florestas, sendo o estado brasileiro com o maior número de camponesas e camponeses.
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As militantes reafirmaram o protagonismo das mulheres na agricultura e também na luta pelo direito de viver e se desenvolver no campo, com qualidade e soberania.
Patriarcado
No período da tarde, o tema da mesa foi “Autonomia das mulheres: avanços e desafios” e contou com a colaboração de Edileusa Silva do IRPA e Nólia, militante do CETA.
Neste espaço as companheiras discutiram sobre o patriarcado e o machismo como sistemas de dominação e exploração do corpo, do trabalho e vida das mulheres, aspectos fundamentais para a manutenção do capitalismo.
Edileusa destacou a importância da construção do feminismo socialista como algo fundamental para transformações radicais da sociedade.
Já Nólia ressaltou a importância das políticas públicas voltadas à melhoria de vida dos camponesas e camponeses, assim como as políticas específicas às mulheres, sem deixar de identificar seus limites.
A temática em torno da violência contra as mulheres também fez parte das discussões ao longo do dia. Sobre este tema, foram destacados três vias de violência por parte dos maridos: física, psicológica e moral.
Nesse sentido, foi dado como desafio encarar a violência machista como um problema político a ser enfrentado dentro dos núcleos familiares do meio rural.
A metodologia da atividade permitiu que todas as participantes pudessem discutir em pequenos grupos sobre as questões expostas. Com isso, a plenária foi finalizada com sínteses trazidas pelas próprias camponesas.
Para elas, os debates reafirmaram o mês de março como um momento para intensificar a luta e o enfrentamento ao capital, ao agronegócio, ao machismo e todas as formas de opressão contra as mulheres da classe camponesa e trabalhadora.