Com agroecologia, acampados no sertão diversificam produção de alimentos



Por Ramiro Olivier

Da Página do MST


A produção de hortaliças e leguminosas orgânicas virou rotina no Acampamento Filhos da Luta, no município de Santa Maria da Boa Vista, região Sertão do São Francisco, em Pernambuco.



Por Ramiro Olivier

Da Página do MST

A produção de hortaliças e leguminosas orgânicas virou rotina no Acampamento Filhos da Luta, no município de Santa Maria da Boa Vista, região Sertão do São Francisco, em Pernambuco.

O acampado João da Silva, de 23 anos, diz não ter sido fácil chegar até esse estágio, em que há uma grande produção de alimentos saudáveis dentro dos princípios agroecológicos. “Lutamos muita até chegar aqui, foram muitos pistoleiros nos perseguindo e nos ameaçando dentro desse acampamento”, relembra.

O latifúndio intitulado Fazenda Milano, hoje conhecido como Acampamento Filhos da Luta, foi ocupado em outubro de 2013 por aproximadamente 1.500 famílias. O nome faz referência ao fato de grande parte dos acampados serem filhos e filhas de assentados oriundos das áreas de Reforma Agrária da região.

A terra, de 1.584 hectares, está em nome de José Gualberto de Freitas Almeida, que responde processo por sonegação de impostos. Desde 2009, a fazenda de José Gualberto está para ser leiloada. O imóvel tem uma dívida de cerca de R$ 400 mil com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

Se outrora se produzia monocultivo de uva voltado à exportação, hoje a produção de alimentos está cada dia mais diversificada, com feijão, milho, melancia, coentro, alface, batata e pimenta de cheiro.

“Não uso veneno em minhas plantações, porque sei que veneno é uma coisa que prejudica a saúde das pessoas. Prefiro produzir alimentos saudáveis não só para minha família, mas para quem eu vendo também”, explica o acampado Pedro de Souza.

Desde 2009 o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, consumindo 1/5 da produção mundial dessas substâncias. Segundo os movimentos sociais do campo, essa realidade está diretamente relacionada ao modelo produtivo do agronegócio. 

O último levantamento feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostrou que 28% dos alimentos foram considerados insatisfatórios pelo uso excessivo dos venenos agrícolas. Outros 35% que foram classificados como satisfatório apresentaram resíduos nas suas propriedades.

Além disso, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMG) descobriu que 100% das amostras do leite materno no município de Lucas do Rio Verde estavam contaminados por agrotóxicos.

Sob estes argumentos que os Sem Terra do Filhos da Luta buscam fazer a discussão com a sociedade sobre a disputa atual no campo brasileiro sobre o modelo de produção agrícola. 

“Produzimos uma vasta produção de alimentos saudáveis para o município de Santa Maria da Boa Vista. Se não nos tirarem dessa terra, prometemos produzir muito mais para o povo desse município e também ampliar a venda para outros locais”, salientou o acampado Manoel Pereira.