Assentados conquistam 1° agroindústria do Terra Forte em SP
Por Maura Silva
Da Página do MST
As famílias assentadas e acampadas da região de Andradina (SP) serão as pioneiras da primeira agroindústria financiada pelo Programa Terra Forte no estado de São Paulo.
Por Maura Silva
Da Página do MST
As famílias assentadas e acampadas da região de Andradina (SP) serão as pioneiras da primeira agroindústria financiada pelo Programa Terra Forte no estado de São Paulo.
A cerimônia de assinatura do projeto de cooperação entre a Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados e pequenos Produtores da Região Noroeste do Estado de São Paulo (COAPAR) com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Fundação Banco do Brasil, aconteceu nesta quarta-feira (24), no Assentamento Timboré.
A Coapar receberá cerca de R$ 12,8 milhões para investir na construção da agroindústria. Para Lourival Plácido de Paula, presidente da COAPAR, a assinatura do acordo significa o reconhecimento do trabalho realizado há anos nos assentamentos.
“Esse é um momento de consolidação do trabalho do MST que luta há mais de 25 anos para industrializar a matéria prima produzida nos assentamentos. A Coapar nasceu há 17 anos com esse objetivo”.
Segundo Lourival, a região de Andradina tinha como base a pecuária de corte, mas com o desenvolvimento dos assentados e de sua produção, os trabalhadores rurais foram migrando para a produção leiteira.
“Hoje trabalhamos para produzir produtos que possam ir para os supermercados com a marca da Reforma Agrária, com a marca da luta no campo. São produtos que superam o uso indiscriminado dos agrotóxicos e que é digno da população brasileira”, afirma o Sem Terra.
Estudos realizados pela Cooperativa de Trabalho de Assessoria Técnica e Extensão Rural (COATER), apontam que os assentamentos da região produzem 100 mil litros de leite por dia. No entanto, sem apoio à ndustrialização, essa produção tem dificuldade de aparecer nos supermercados e, consequentemente, na mesa da população.
“A industrialização é o elemento necessário para agregar valor à matéria prima produzida pelos assentamentos. Esperamos contribuir cada vez mais com as cooperativas e com o desenvolvimento da Reforma Agrária”, disse o Ministro do Desenvolvimento Agrário de São Paulo, Laudemir Muller.
Terra Forte
O Programa Terra Forte, lançado em 2013 pela presidenta Dilma Rousseff, tem o objetivo de apoiar projetos de agroindustrialização da Reforma Agrária.
Segundo Delveque Matheus, da direção nacional do MST, o programa é resultado de anos de luta dos movimentos sociais do campo, e se consolidou por meio de uma ação conjunta entre os movimentos, a Secretaria Geral da Presidência da República, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Para Delveque, a assinatura desse acordo é importante para dar vazão a antigas reivindicações das famílias assentadas.
“Investir na agricultura familiar, na produção feita nos assentamentos significa investir na saúde da população. O agronegócio não produz alimentos, produz commodities. Nós temos um sistema de produção saudável, com potencial ecológico, por isso, travamos uma batalha há mais de 25 anos pelo produto com o selo da Reforma Agrária”.
Segundo ele, esse é apenas o primeiro passo, e retrata um sonho antigo das famílias que passaram pela lona preta. “Ainda temos muito para conquistar, lutamos e vamos continuar lutando. Queremos a marca da Reforma Agrária nos supermercados e nas mesas dos brasileiros”.
O presidente nacional do Incra, Carlos Guedes, reconheceu que “esse é um projeto de cada homem e cada mulher. Cada assentado que luta diariamente pelos seus direitos e pelo reconhecimento de sua terra. É um passo, não o fim da caminhada. E o nosso papel é investir e apoiar ações que priorizem o crescimento sustentável dos assentamentos. Esse é um sinal de que os trabalhados rurais estão no caminho certo”.
Benefícios à cidade
Com 46 assentamentos e mais de 4.500 famílias, Andradina é a única cidade do país a ter uma Secretária Especial da Reforma Agrária. Para o prefeito municipal da cidade, Jamil Akio Ono, o investimento feito na região por meio da cooperação irá beneficiar toda a cidade.
“Andradina é uma cidade com muitos problemas econômicos. A construção de uma agroindústria vai fazer com que a economia da cidade cresça, trazendo um saldo positivo a ela. E não é um crescimento qualquer, é um crescimento sustentável, feito através de produtos de qualidade”, afirma.
A agroindústria será erguida no distrito industrial de Andradina. Com a liberação efetiva da verba, o prefeito espera que as construções sejam iniciadas no início de 2015.
A luta continua
O termo de cooperação é o primeiro de um total de 33 projetos qualificados pelo governo federal. Destes, 23 foram aprovados e aguardam liberação de recursos. O plano que tem uma duração de cinco anos não prevê data limite para o repasse de verba.
Rene, assentado há 14 anos na região, salienta que ainda há muito a ser feito pelo trabalhador rural no país. Para ele a prioridade ainda é a luta contra os grandes latifundiários.
“Não podemos acreditar que o vencemos, ainda há muito que ser feito. O atual governo não priorizou a questão agrária como prometeu. Investir na agroindustrialização, na diversidade da produção é um ponto. Mas não podemos nos esquecer do problema primário, são milhares de famílias acampadas”, lembra o Sem Terra.
Para ele, a grande prioridade é assentar todas essas famílias, que totalizam cerca de 150 mil em todo o país. Nesse sentido, Rene acredita que tem que beneficiar os assentamentos investindo na agricultura familiar e camponesa, “mas, sobretudo, exigir de fato a Reforma Agrária que é a grande batalha do Movimento”.
Também estiveram presentes, Guilherme Lacerda, Diretor de Infraestrutura Social, Meio Ambiente e Agropecuária do BNDES, Marcos Frade, diretor executivo de desenvolvimento social da fundação do BB, o Ministro-Chefe da Secretária Geral da República em exercício, Diogo de Sant’Ana, o Ministro de Estado da Previdência Social em exercício, Carlos Gabas, o Secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Aléssio Trindade de Barros, o Diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, João Marcelo Intini, o delegado do MDA de São Paulo,Reinaldo Prates, o Presidente da Coater, Hiroshi Kakinohana, o Superintendente Regional do Incra de São Paulo, Wellington Diniz e o Superintendente Estadual do Banco do Brasil em São Paulo, Euzivaldo Vivi e Luzia Ferraiolo.