“Temos a necessidade da terra pra produzir e tirar nossa sobrevivência”, afirma Sem Terra

Café coletivo, doações de alimentos da Reforma Agrária e marcha marcam o dia da audiência de instrução sobre o caso da falida unisa de Ariadnopólis
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Ato final após audiência. Foto: Iris Pacheco

Por Iris Pacheco 
Da Página do MST

 

“A terra ela é sagrada, nas mãos de quem trabalha a terra. Suor, vida, trabalho e terra, o direito a terra é de quem trabalha.”
 

Na manhã desta quarta-feira, 13, as famílias Sem Terra do Acampamento Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas Gerais, acompanharam a audiência de instrução referente ao caso da falida usina de Ariadnopólis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA), que encerrou suas atividades em 1996, embora ainda possua dívidas trabalhistas de milhões nunca solucionadas.  
 

A chegada na Praça da Matriz, em frente ao Fórum, já foi bem movimentada, uma vez que, os onibus que deslocavam o povo Sem Terra foi impedido pela PM de entrar na cidade. Todas e todos desceram e foram caminhando até o local, com bagagens e crianças.
 

Embora esse tipo de audiência não seja de julgamento imediato, a advogada Letícia Souza, explica que ela é super importante, pois “é o momento em que o juiz ouve as partes e as testemunhas arroladas sobre os fatos constantes no processo, afim de produzir provas para comprovação da matéria de fato e de direito questionada na ação”. Somente posteriormente é que o/a juiz/a emitirá uma parecer final sobre o caso.
 

No entanto, para as famílias Sem Terra, este foi um momento de reafirmar a solidariedade e apoio recebido da sociedade e parceiros durante todos esses anos. Assim várias ações foram realizadas pelo povo Sem Terra, que aguardava o desenrolar do processo em frente ao Fórum de Campos Gerais. Entre elas, a realização de um café coletivo, a doação de alimentos e de mudas de árvores nativas e frutíferas para a população local. 
 

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Produção do Acampamento.
Foto: Iris Pacheco

Há 21 anos que essas famílias trabalham a terra gerando vida, trabalho e renda. Em alguns casos, ainda antes disso, quando tinha sua mão de obra explorada pelo latifúndio. “Trabalhei nessas terras desde os meus oito anos. Quando a usina faliu nos juntamos com o MST e ocupamos . Hoje produzo café, milho, verduras, legumes, tem árvores nativas e frutíferas, crio porco, galinha.. temos a necessidade de ter uma terra pra produzir e tirar nossa sobrevivência”, afirma o Sem Terra Rubens Batista. 
 

É dessa certeza que a terra é de quem trabalha, que a luta das 450 famílias produtoras do café Guaií continua. Para Souza a audiência foi um passo importante dentro do processo pelo direito a esta terra. “O latifúndio improdutivo não pode ser um empecilho aos direitos e garantias constitucionais. A terra é um direito e é por ela que essas famílias resistem!” 
 

Após a audiência, as famílas Sem Terra que estavam presente acompanharam o ato com intervenções de apoio e reafirmaram a luta e construção da Reforma Agrária Popular, que a partir de agora se materializa de forma mais intensa com o plantio de mais 2 milhões de árvores frutíferas e nativas em todo o Acampamento Quilombo Campo Grande. 
 

Depois disso, o povo ainda saiu animado em marcha pelas ruas de Campo do Meio (MG) para agradecer a toda população pelo apoio nesses 20 anos de resistência e de luta pela terra. 
 

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Marcha pelas ruas de Campo do Meio.
Foto: Iris Pacheco

“Sabemos da importância da luta por aquela terra, e queremos sim que a decisão seja favorável a nós. Reafirmamos a resistencia  do Quilombo Campo Grande principalmente a partir do apoio e solidariedade da sociedade, que também sabe o quanto esse território tem agregado e contribuído para o desenvolvimento local”, ressalta Tuíra Tule, da direção regional do MST.